• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
terça-feira - 19/03/2013 - 10:50h
Realidade multissecular

A inocência dos santos e do povo diante da seca

Por que tantos séculos depois, ainda enfrentamos o tal do “fenômeno da seca” no Nordeste?

Ainda no tempo da chegada de colonizadores (exploradores) e jesuítas ao país, século 16, em que tínhamos uma vegetação praticamente original, também havia estiagem. O sol era o mesmo: abrasador.

Relatos preservados por documentos oficiais da Coroa Portuguesa e jesuítas, em especial, provam isso.

Saímos da situação de Colônia, transformamo-nos em um país de regime monárquico, saltamos para a condição de República e… lá se foram mais de 500 anos sem que o quadro melhorasse para o nativo e novos ocupantes desse território.

A natureza é a mesma, com variações naturais e cíclicas e ação do homem, mas o homem é que precisa aprender a conviver com essa realidade.

Problema do RN e do Nordeste não é falta de chuva. Faltam governos e governantes com espírito público e foco em prioridades para o povo. Em áreas desérticas mundo afora, como Israel e Califórnia, chove menos do que no Nordeste e não temos notícias de retirantes, carros-pipa.

Em termos do Rio Grande do Norte, avançamos muito pouco ou quase nada. Temos ações pontuais. Na maioria dos casos, há sempre medidas “emergenciais”.

O que o poder público poderia ter feito de forma definitiva e mais eficaz, praticamente ignorou.

O Rio Grande do Norte, por exemplo, poderia fazer um inventário de seu capital hídrico com amplo cadastramento de reservatórios públicos e privados.

A partir daí, passaria a fazer um planejamento e execução de programa de remanejamento de águas – com sistema interligado – a regiões e municípios mais críticos. Custo poderia ser superlativo, porém muito barato num comparativo com os bilhões despejados nas emergências.

Esse tipo de iniciativa, aliada a programa estadual permanente de transporte rodoviário/ferroviário de água, poderia impedir o que ocorre em Luís Gomes, que está há quase 600 dias sem água nas torneiras.

Realidade que se repete com o nome de "fenômeno" há séculos

Dentro desse contexto, deveríamos permanentemente ter investimento em dessalinizadores, poços e outras modalidades de reservatórios.

Não devemos esquecer a própria economia agropecuária. Os pequenos produtores praticamente não têm apoio. Muitos precisam vender seu gado esquelético ou testemunharem a morte de todo  um rebanho de forma cruel.

O poder público precisa garantir a sobrevivência e ampliação do rebanho, apoiando em eventual transporte das reses, alimentação e algum tipo de “bolsa” para impedir essa tragédia cíclica.

Reservatórios como Santa Cruz, Armando Ribeiro e Umari podem ter melhor aproveitamento.

A ampliação do programa de adutoras é um diferencial que os governos têm apostado, desde Garibaldi Filho (PMDB).

Temos aí Transposição do Rio São Francisco, obra pensada há décadas, mas que até agora tem feito apenas a alegria dos corruptos, com superfaturamento e rateio do butim.

Enfim, muito pode ser feito.

Falta sensibilidade. A seca não é o problema. Problema é a falta de interesse dos governantes.

Ações emergenciais dão mais lucros e votos.

E, por favor, não cupem São Pedro nem exijam demais de São José.

Eles, como a massa sertaneja cá embaixo, são inocentes.

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Categoria(s): Opinião da Coluna do Herzog

Comentários

  1. Joaquim Anselmo diz:

    Primeiro plano da emergência que vi no RN foi em 1983, governo de Zé Agripino, comentei que não resolvia nada e como não resolveu, hoje 30 anos depois a situação é a mesma, os comentários, os mesmos e como a trinta anos atrás nada é resolvido. ou nordeste véi sofrido. resta esperar pelo Jornal Hoje e ver a previsão do tempo, torcendo que o mapa mude de cor. que vai continuar na cor amarela aqui para o Nordeste, torcendo que mude para cor verde, por que esperar por essas malas que nos administram é mais desesperador, se não fosse cruel a situação seria cômica, esperar por ação dos políticos.

  2. Francy Granjeiro diz:

    Triste, muito triste ver uma cena dessas e esses políticos tribufu do RN não fazem porra nenhuma…como se o culpado fosse São Pedro e São José, paciência!!
    //www.brasil247.com/pt/247/pernambuco247/96627/Seca-deixa-86-do-RN-em-situa%C3%A7%C3%A3o-de-emerg%C3%AAncia.htm
    ALOOOOOOOOOOOOOOOO POLÍTICOS DO RIO GRANDE DO NORTE!!!!!!!!!
    CADÊ AS ADUTORAS???????????????????
    PARA QUE SERVEM AS BARRAGENS DE STA CRUZ E ARMANDO RIBEIRO???????????????????????
    fraquinhos!!…kkkkkkkkkkk

  3. Maria do Céu de Albuquerque diz:

    – ENQUANTO ISTO […] FORAM GASTOS R$ 502.000,00 (QUINHENTOS E DOIS MIL REAIS), COM A REALIZAÇÃO DO CARNAVAL/2013, POR DETERMINAÇÃO DO PREFEITO DO MUNICÍPIO DO APODI/RN – SR FLAVIANO MONTEIRO, SOMENTE PRA TRAZER MAZELAS PARA OS(AS) FILHOS(AS)DO NOSSO APODI-RN E TAMBÉM,BENEFICIAR ALGUNS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS E PARENTES(AS) DESSES DITOS QUE, ALUGARAM IMÓVEIS PRÓPRIOS E OUTROS DA EQUIPE DA PREFEITURA MUNICIPAL DO APODI – ALUGARAM TAMBÉM, ATÉ CASAS PRÓPRIAS,NESSE MESMO CARNAVAL,EM NOSSA CIDADE DO APODI, ELE (PREFEITO-FLAVIANO MONTEIRO) DEVERIA TER COMPRADO RAÇÃO E ÁGUA DOS CAMINHÕES PIPAS E TER MANDADO PARA OS NOSSOS AGRICULTORES, CAMPONESES E CRIADORES DE GADO,DO NOSSO MUNICÍPIO DO APODI, PARA SACIAR A FOME A SEDE DOS REBANHOS BOVINOS E CAPRINOS,POIS OS QUAIS, SERIAM UM GRANDE INVESTIMENTO.
    AO CONTRÁRIO DO QUE,O SR PREFEITO FLAVIANO MONTEIRO, GASTOU COM CARNAVAL, TRIOS-ELÉTRICOS E,DIVERSÕES.
    OBS: ATÉ O PRESENTE MOMENTO,O PREFEITO MUNICIPAL DO APODI/RN – SR FLAVIANO MONTEIRO,ENCONTRA-SE INERTE A ESTA CAUSA. NÃO TOMOU NENHUMA PROVIDÊNCIA.
    MUITO OBRIGADA.

  4. Patricio Lobo diz:

    “Salta aos olhos” a limpidez e veracidade das palavras condensadas no texto. Parabens!

  5. Inácio Augusto de Almeida diz:

    S E C A

    Espio para este céu azulzinho e me avexo. Parece uma muié, tão bonito e ameaçador. A plantação desde há muito tempo que não dá nada, desde a era em que Jesus levou Cecinha para junto dele.
    Ainda me arrecordo dela, tão magrinha, tossindo, tossindo, tossindo. Seus óios crescendo todos os dias como se fossem ficar do tamanho da lua.
    Até que um dia ela assossegou prá sempre.
    Compadre Bento, que entende destas coisas, me jurou que foi do gosto de Deus, porque se não fosse ela teria ficado junto deu e hoje era uma mocinha. Se eu tivesse recurso naquele dia para ter levado ela para o Doutor da cidade olhar, talvez Deus tivesse esperado um pouco mais. Mas eu não tinha dinheiro nenhum e me acanhei de pedir ao Coroné.
    Ele já tinha sido tão bom comigo. Até comprimido de melhoral ele já tinha me dado para ver se a Cecinha ficava boa daquela tossideira.
    Seu vigário me disse que compadre Bento tinha razão. Cecinha só se foi porque Deus quis.
    Se chovesse um bocadinho que fosse eu saía desse aperto. Plantar eu plantei, só falta um tiquinho de água, uma gotinha só. Mariazinha já está com a mesma tossideira da Cecinha.
    Dá vontade de chorar, mas não posso chorar.
    Me disseram, desde que eu era menino que só servia para apanhar algodão, que sertanejo não chora, que choro fica para quem é do brejo. Mas que sinto uma vontade lascada de chorar, eu sinto, não vou mentir. Meu coração parece que está sendo cortado por uma peixeira cega.
    Dói muito, muito mesmo.
    Naquele último ano em que deu safra, foi muito bom.
    Eu me arrecordo de que comprei até um vestido novo para a Cecinha. Foi bom demais, como foi bom.
    O homem que veio da cidade comprar as coisas da gente pagava tudo com dinheiro novinho que parecia pão quente que a gente come quando vai à cidade. Compadre Bento me explicou que o dinheiro estava estalando porque era dinheiro do banco que tinha sido emprestado ao homem para comprar o que a gente tinha apanhado.
    O homem só queria comprar tudo barato e terminou a gente vendendo barato mesmo, senão estragava tudo. Mas mesmo destes modes ainda deu prá gente tomar umas pingas na bodega do seu Manuel e ir ver a novena na cidade.
    Como a Santa tava bonita e como o seu vigário tava alegre.
    Mariazinha continua tossindo, o céu continua azulado, tão azulado como o pano que enrolou Cecinha.
    Mas vai chover, se Deus quiser, vai chover.
    E Deus é bom.
    Inácio Augusto de Almeida
    Jornalista/Escritor

  6. chagas nascimento diz:

    Enquanto isso, se prepara uma grande recepção para o dia 13 de abril, nos luxuosos salões do Hotel Garbus, para posse da diretoria de uma associação de vereadores dos municípios do nosso Estado. E neste dia de festa, haverá uma audiência pública para debater sobre a seca que ocorre em nossa região.
    Isto só pode ser uma piada de mau gosto.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Erivan
      Não se surpreenda se qualquer dia alguma prefeita ao saber que o povo não tem água para beber mandar o povo tomar leite.
      Na França teve uma deslumbrada que ao saber que o povo não tinha pão mandou que comesse brioches(bolinhos).
      A verdade é que perderam totalmente a sensibilidade.
      E só acordarão no dia em que o povo tiver coragem de ir gritar nas ruas.
      Infelizmente falta coragem ao nosso povo.
      E disto eles se aproveitam.
      Que Deus abençoe a todos nós.

  7. Alisson Rodrigues diz:

    Concordo integralmente. A roubalheira é grande e solucionar problemas que é bom… NADA! Enquanto isso, padecemos na esperança de dias melhores.

  8. Marcos Pinto. diz:

    Já efetuei dez visitas à CONAB em Mossoró para verificar se o milho subsidiado pelo governo federal havia chegado, sendo certo que só encontro o prédio vazio, sem sequer um quilo de milho, e muita tristeza e desapontamento dos inúmeros e humildes agricultores alí diariamente presentes. Quanta indiferença dos governos federal e estadual !. Ninguém vê manifestações de protesto do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mossoró, como também da FETARN – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Norte. Só resta esperar por DEUS, para que amenize o intenso sofrimento do sertanejo potiguar. 2014 é bem ali. Uma lástima, pois.

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