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domingo - 05/03/2017 - 09:32h

A nostalgia da direita no velório da esquerda

Por François Silvestre

O Brasil foi laboratório de uma experiência excepcional. Tão estranha quanto previsível. Posto que no Pindorama dos Tupis todo o inexplicável se explica. E o devidamente explicado repousa na bacia do que não tem explicação.

Não no tempo dos silvícolas. Porém,  nos tempos seguintes após a chegada da corte portuguesa, esquerda e direita cumpriam regras náuticas. Posto que a circunavegação é anterior à classificação de direita e esquerda, na limitação política. Quando muito, de cada caravela a boreste ou a bombordo. Boreste substituiu o estibordo, para evitar confusão de sonoridade, ao grito de comando, ainda na guerra náutica do Paraguai.

Esquerda e Direita ganharam forma de conceituações ideológicas a partir das posições tomadas pelas bancadas na Assembleia Nacional da França, quando os conservadores se postavam à direita da Mesa e os revolucionários ou progressistas tomavam assento à sua esquerda.

Ao correr do tempo, como as nuvens, mudaram posições políticas e sentidos semânticos. Inúmeras configurações e variados matizes de natureza ideológica se postaram entre as duas denominações.

Tudo ao sabor do oportunismo ou do discurso farsante que costuma modelar o comportamento dos que buscam ou abiscoitam o poder.

Das posições moderadas ao extremismo mais brutal, tudo já se viu dando feição ou adjetivando partidos, movimentos e até revoluções. Não há limites ao embuste, quando o fim é o domínio.

A Alemanha Oriental, soviética, chamava-se democrática, sem democracia. O Nazismo chamava-se Nacional Socialismo, sem ser socialista.

Lacerda, que fora comunista e virara símbolo do anticomunismo, disse no seu Depoimento, em livro, que a Esquerda para ele era o lado generoso da política. Mas acentuou que rompera com o Comunismo porque essa doutrina, na prática, traíra o compromisso histórico.

Ao ajudar no aniquilamento do getulismo, Lacerda cavou a própria cova. Ele só interessava aos milicos politicados e à direita empresarial enquanto os sucessores de Getúlio estivessem no poder. Aniquilados Juscelino e Jango, a direita descartou Lacerda.

Agora, há um fenômeno parecido. A direita só tinha discurso com a esquerda no poder. Destruir o petismo foi o erro lacerdiano da direita, no Brasil atual. Perdeu a razão de ser. E já começa a choramingar a perda irreparável.

Nenhum governo da nossa historia foi tão generoso com a direita quanto o petismo. Nenhum.

O governo da esquerda foi bondoso com os desvalidos distribuindo prebendas, que os retiraram temporariamente do estuário da miséria. Mas foi generosíssimo com a direita empresarial; empreiteiros, banqueiros e publicidade.

Nunca tantos ricos ficaram tão ricos. Dinheiro muito, independentemente da licitude ou não. Resta à Direita, nostalgicamente, carpideirar no velório da Esquerda.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Carlos André diz:

    Nunca os ricos estiveram tão ricos e os pobres tão pobres!!!!

  2. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Obrigado meu Caro FRANÇOIS SILVESTRE, quando em mais um Domingo do mais do mesmo, embora alegremente chuvoso, nos brinda literariamente, com sua talentosa e peculiar escrita plena de história com “H” …maiúsculo, conhecimento, sabedoria, bom humor e irreverência próprias da sua instigante história política e cativante personalidade.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. naide maria rosado de souza diz:

    Sensacional, François Silvestre. Fiz uma transposição de seu brilhante Artigo, para outro no Facebook. Depois, reproduzi a pesca, a mais brilhante. Evidentemente dei-lhe o crédito. Além de ser ilícito não fazê -lo, de imediato seria descoberta pois o oxigênio de seu cérebro seria capaz de calibrar mil vezes o meu.

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