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domingo - 16/04/2017 - 16:34h

Ainda o Regimento de Obuses

Por François Silvestre

Domingo passado tratei de alguns fatos dos tempos do Serviço Militar. Tentei não servir, estava errado.

Mesmo negando o militarismo, abominando as ditaduras, rindo da ordem-unida, vejo o serviço militar como elemento agregador do civismo. Desde que voluntário e não intervencionista. O serviço militar obrigatório foi bandeira do poeta Olavo Bilac, do qual é patrono.

Eu morava na Casa do Estudante e já estava engajado no Movimento Estudantil, quando fui prestar o serviço militar. Com a prisão de Emmanuel Bezerra, Presidente da Casa, assumiu o vice-presidente. Eu era Diretor de Cultura.

Aberto o processo sucessório, fui indicado para disputar as eleições. A direita fugiu da disputa e eu fui candidato único.

Eleições no Domingo. No Sábado, eu estava de serviço, no Quartel. Pela manhã, troquei a farda de serviço pela de passeio e saí do alojamento em busca da Casa do Estudante, para votar e tornar-me Presidente daquela inesquecível instituição.

Quando ia passando pelo Corpo da Guarda, sou chamado pelo comandante do dia. Era o Tenente Pollari, da Bateria de Serviço. “Onde você estava”? Respondi que estava de serviço e de saída.

Ele disse: “Você num vai pra canto nenhum. Por ordem do QG, mandei agora mesmo uma patrulha buscá-lo na Casa do Estudante”. Argumentei: “Mas Tenente, tem eleição lá e eu sou o candidato”. Ele respondeu: “Tem eleição coisa nenhuma. O General já mandou suspender tudo e prender você”.

Pollari era um R-2, boa praça. Mandou que eu voltasse para o alojamento e de lá não saísse. Não me prenderia no Corpo da Guarda. Os outros comandantes, nos dias seguintes, fizeram o mesmo. Fiquei preso no alojamento, sem prestar serviço ou usar armas, até que houvesse nova eleição na Casa.

Fizeram nova eleição de gambiarra e foi eleito um presidente palatável ao QG, do general H. Duque Estrada. Após isso, me liberaram. De “perigoso” para presidir a Casa, voltei a ser recruta. Inclusive usando armas.

Tempo de licenciamento. Ocorre que tramitava, na Auditoria do Exército, em Recife, um processo contra vários estudantes, inclusive contra mim. Meu licenciamento foi adiado.

No Gabinete do Comandante do Regimento, Coronel T. Bertold Castelo Branco, fui ver a incineração da minha Carteira de Reservista, por conta da data nela contida. Tudo em posição de sentido.

Dezoito dias depois, fui licenciado. Ia saindo do quartel, quando vejo defronte do Cassino de Oficiais o Cap. Ibiapina. Batia com um bastão, que usava regularmente, no bico do coturno. Chamou-me. “Conselho e água só se dá a quem pede. Você não gosta do verde-oliva e ficou mais tempo do que seus companheiros. Vá cuidar da sua vida. Você não vai mudar nada, mas poderá estragá-la”.

Agradeci, cumprimentamo-nos e despedi-me.  Nunca mais o vi. Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    Como sou um contumaz ansioso, e, se estivesse em seu lugar, teria tido um incontinenti infarto fulminante diante tanta rigidez na exigência do cumprimento das normas militares. E viva a anarquia !. Rsrs.

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