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domingo - 30/07/2017 - 08:28h

Carta a um desconhecido ignorante

Por François Silvestre

Um aviso: Se você não é ignorante nem desconhecido, não leia esta carta. Caso a receba, não abra o envelope. Não é de boa educação ler correspondência alheia.

Difícil é a educação superar a curiosidade. Se não é destinada a você, contenha-se. Mesmo que você diga a si mesmo: “quem disse que eu quero ler essa bosta”?

Cumpra sua pose de destinatário equivocado e rasgue o envelope sem retirar a carta. Consegue? Duvido.

Esta carta não é para você. Ao lê-la, revela má educação. Não conhece nem cumpre as regras da civilidade na cultura das correspondências. Não se lê correspondência alheia. O que danado você tá fazendo? Tá lendo isso? É um maleducado!

Essa carta não é sua. É pra um desconhecido ignorante. Se chegou ao seu endereço, foi equívoco dos Correios. Ou resultado da greve dos carteiros. Portanto, não leia.

A menos que você não saiba ler. Aí pergunte ao carteiro furador da greve, do que se trata. E se ele souber ler, vai dizer que não pode fazê-lo, pois não é um ignorante desconhecido.

Essa carta, missiva dos tempos outros, destina-se apenas e tão somente aos ignorantes. E ainda por cima se estiverem por baixo.

Você é ignorante? Se sim, continue lendo. Você já esteve por cima? Se sim, continue lendo. Você agora está por baixo? Se sim, continue lendo.

Você não é ignorante? Se não, vá ler outra coisa. Você nunca esteve por cima? Se não, vá ler outra coisa. Você sempre esteve por baixo? Se sim, tá perdendo seu tempo.

Você acredita em jornal? Se sim, continue lendo. Você acredita em político? Se sim, continue lendo. Você acredita em justiça? Se sim, continue lendo. Você acredita em mula sem cabeça? Se sim, leia e releia.

Você não perde tempo com besteira? Se não, por que tá lendo isso?  Você perde tempo com besteira? Se sim, pode abrir o envelope, talvez a carta seja pra seu vizinho. Todo vizinho é meio estúpido, né não? Então jogue essa carta no seu (dele) quintal.

Pus o “dele” entre parênteses porque talvez seja você o vizinho estúpido do outro vizinho menos bocó. Basta perguntar se ele leu isso. Se ele tiver lido, vocês se merecem. Se não, o bocó é você.

Pois bem. Gastei tanto tempo tentando localizar um destinatário que se nivele ao remetente, que quase não sobrou espaço para o assunto da carta.

Se você quer saber o assunto é sinal de que abriu o envelope e tá lendo. Ou não? Tantantantaaamm!

O assunto é uma graninha por fora. Não se assuste. Nada de telefone. Nem de e-mail. Nem encontro à noite. Mesmo que você seja chegado num encontro noturno.

Vamos conversar pessoalmente.

Diga ao Temer, pessoalmente, que não receba mais seus amigos bandidos no Jaburu. Venham pra cá. Aqui temos triturador de voz, fala todo mundo ao mesmo tempo; não há gravador ou perito que consiga separar as falas.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Recebi a missiva; obrigado, lembranças à família.

  2. François Silvestre diz:

    Destinatário errado.

  3. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Amei, como sempre!
    Ah! estou acreditando num político. Lá do Acre. Um dia falarei sobre ele.

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