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terça-feira - 26/07/2016 - 14:34h
Mossoró

“Corredor Cultural” tem dono privado e muita polêmica pública

Há dias um amplo terreno na Avenida Rio Branco até cruzamento com a Rua Coelho Neto, bairro Boa Vista, virou centro de nova polêmica em Mossoró. O advogado Evânio Araújo, através de quadro que apresenta na Rádio RPC (AM) e em redes sociais, denunciou o que considerou suposta invasão do patrimônio público.

A celeuma ganhou dimensão de cruzada cívica, mas também descambou para o recorrente lengalenga político.

O imóvel faz parte do “Corredor Cultural” de Mossoró, que ao longo da Avenida Rio Branco tem vários equipamentos públicos que mudaram a paisagem da área urbana da cidade, com a Estação das Artes Eliseu Ventania, Memorial da Resistência, Teatro Municipal Dix-huit Rosado, Praça dos Esportes, Praça de Eventos, Praça da Convivência etc.

O “xis” da questão seria, na verdade, baseada numa interrogação: “a quem pertence o terreno?” Um grupo de empresários atesta, com documentação, que a área lhe pertence. Daí, o direito a cercá-lo e lhe dar o destino que entender conveniente.

Os proprietários seriam Diógenes da Cunha Lima, Genivan Josué Batista, Genibaldo Barros e José Gilmar de Carvalho Borges. Arremataram o imóvel em leilão ocorrido no dia 18 de abril de 2001 em Recife-PE, por R$ 248.157,00. Estão documentados.

A Prefeitura de Mossoró admite, através de um de seus porta-vozes da Procuradoria do Município, Gilvan Cavalcante, que realmente não tem a posse dele. Na verdade, a área “não é pública”. Mesmo assim, cobrava taxas de comerciantes que o ocupam até o momento.

Então, o porquê desse tititi?

Cronologia do caso

– Agosto de 2000 – Prefeita Rosalba Ciarlini (PP) solicita à Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) os terrenos entre a Avenida Augusto e Coelho Neto, no Bairro Boa Vista.
– 2001 – RFFSA lança edital do leilão.
– 17 de abril de 2001 – Câmara Municipal de Mossoró aprova lei que transforma o espaço em Corredor Cultural.
– 18 de abril de 2001 – Leilão ocorre em Recife-PE e grupo encabeçado pelo advogado Diógenes da Cunha Lima arremata-o por R$ 248.157,00.
– 2009 – Acontece o embargo judicial provocado pelos arrematadores.
– 2013 – Empresa A&C começa a se instalar em Mossoró na Avenida Rio Branco, em terreno próximo à Rua Coelho Neto.
– Abril de 2013 – Acordo entre Prefeitura (Gestão Cláudia Regina-DEM) e empresários é homologado. Proposta dos empresários: Prefeitura desocupa os terrenos que não foram construídos e indeniza-os pela parte que vai do Teatro Dix Huit Rosado à Praça dos Esportes. Contraproposta da Prefeitura: empresários abrem mão da indenização, cedem mais uma parte para a construção da Praça das Oiticicas, além de ofertarem mais um terreno no centro. Terreno este que a Prefeitura doaria em seguida para a A&C, à Avenida Cunha da Mota, bairro Pereiros.
– Julho de 2016 – Proprietários iniciam obra de construção de muro cercando todo o terreno remanescente
– Julho de 2016 – Ministério Público realiza audiência sobre o problema e abre procedimento para apurar eventuais responsabilidades na permuta de 2013.
– Julho de 2016 – Advogado Evânio Araújo pede habilitação nos autos, ao mesmo tempo em que pleiteia pela imediata suspensão do que considera um “esbulho” (invasão), ante a falta de formalidade para a posse.

A questão começa a ser polemizada no seu nascedouro, no próprio processo de leilão em Recife-PE. É questionável o papel do governo municipal à época (2001) no caso. A ampla área apesar de pertencer à RFFSA, estaria em espaço urbano de interesse público e para destinação específica. Às pressas a Câmara Municipal aprovou (veja boxe acima com cronologia) lei que transformava o espaço em Corredor Cultural, em votação um dia antes do leilão.

Mais dúvidas surgem adiante, com relação ao acordo feito em 2013 entre municipalidade e as pessoas que se apresentam como proprietárias, com permuta do imóvel que hoje está sendo cercado com estrutura de alvenaria.

Há, de verdade, muita nebulosidade nesse enredo. Entretanto essa cortina de fumaça que embacia a discussão, é muito mais emocional e politiqueira, do que de ordem legal. Por enquanto, quem pode provar a posse do terreno são seus quatro proprietários, digamos. A Prefeitura corrobora com essa informação. Em momento algum a contesta.

TCM

Em reportagens veiculadas pela TV Cabo Mossoró (TCM) pelo jornalista João Carlos Brito, esse intrincado episódio começa a ser desvendado, mas ainda assim sem fechar o quebra-cabeça. Público ou privado o terreno em questão? O certo é que a história de novo revela como a administração pública trata o interesse coletivo como privado, seu, sem a transparência devida.

Evânio: atitude proativa (Foto: redes sociais)

– Sob o ponto de vista jurídico, é possível anular a “transação” havida com o beneplácito na decisão (permuta de terreno), haja vista, a homologação de ato processual que deveria ter havido cautela, por ter sido praticado de forma temerária – alerta Evânio Araújo. “O interesse público sucumbiu ao individual (sic!). O Projeto de Lei 749/2001 que alterou a Lei 01/75, estabelece critérios para ocupação da Rio Branco, tornando-a zona especial de interesse público, no governo de Rosalba e aprovado à unanimidade pela Câmara”, salienta.

O advogado Evânio Araújo pretende “anular o ato jurídico”. Já o procurador geral do município, Tales Belém, entende que não há o que ser feito pela Prefeitura. Seria fato consumado a permuta  formalizada em 2013.

Provocado, o Ministério Público realizou audiência preliminar que abriu um procedimento para apurar eventuais crimes na permuta de um terreno público por um privado, para instalação em Mossoró da empresa de telemarketing A&C.

Empregos

Os proprietários da área, conforme documentação que possuem, esperam que a Prefeitura o entregue completamente desobstruído. Mas a princípio, não teriam um fim comercial definido para ele.

As ex-prefeitas Rosalba Ciarlini, Fafá Rosado (PMDB) e Cláudia Regina não se pronunciaram.

Em recesso, não obstante ter uma comissão de vereadores que atua nesse período, a Câmara Municipal de Mossoró ainda não deu sua posição oficial sobre a celeuma. A propósito, o presidente desse poder à época do acordo empresários-Prefeitura, era o atual prefeito Francisco José Júnior (PSD).

A instalação da empresa A&C ensejaria – como ocorreu – a contratação de centenas de pessoas. Mesmo assim, pairam nuvens carregadas sobre essa negociação.

Nota do Blog – Obrigado à TCM e ao jornalista João Carlos Brito a inestimável colaboração à produção dessa postagem que busca ser elucidativa, no enfoque da questão em epígrafe.

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Categoria(s): Gerais

Comentários

  1. Herbert Oliveira Mota diz:

    Carlos Santos, parabéns pela excelente matéria.
    Sem querer “ensinar padre nosso a vigário”, mas, sobre essa questão da ocupação (legal ou ilegal) da Av. Rio Branco, entendo, que o interesse público está acima do privado. E exatamente por isso, o Município de Mossoró não pode nem deve permanecer inerte. No âmbito da Administração Pública, existem dois princípios que têm destacada relevância sobre os demais: o primeiro é o princípio da legalidade, que assegura: o que não está legalmente proibido é, por princípio, permitido. O segundo é o princípio da autotutela, que guarda à Administração Pública a possibilidade de rever seus próprios atos. E isso significa dizer que o controle se exerce, é certo, com a possibilidade de anular os atos ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos…

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    ESTÁ NA PÁGINA DO BNDES
    ” BNDES aprova R$ 41,3 mi para empresas de TI de CE, RJ, RN, RS e SP
    21/08/2014
    • Recursos são do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação
    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou R$ 41,3 milhões em financiamentos a seis empresas de tecnologia da informação localizadas nos Estados do Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. As operações acontecem no âmbito do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação (BNDES Prosoft). Ao todo, os projetos devem gerar mais de 5 mil empregos.
    O maior desses financiamentos destina R$ 15,3 milhões à implantação de dois call centers da AeC Centro de Contatos S.A. em Mossoró (RN) e Juazeiro do Norte (CE). Esses recursos se somam a outros R$ 4,8 milhões do BNDES Finame, para aquisição de equipamentos via operações indiretas, totalizando R$ 20,1 milhões do Sistema BNDES, o que representa 46,3% do valor a ser investido no projeto.
    Após a conclusão, prevista para este ano, o projeto deverá gerar 2.500 empregos em Mossoró e 2.400 em Juazeiro do Norte, com possibilidade de contratação de estudantes, funcionários sem experiência e pessoas da terceira idade. A empresa estima ainda que serão criados 200 empregos temporários durante a construção de cada uma das unidades.”
    Atentem para estes trechos da notícia:
    A) O maior desses financiamentos destina R$ 15,3 milhões à implantação de dois call centers da AeC Centro de Contatos S.A. em Mossoró (RN) e Juazeiro do Norte (CE).
    B) Após a conclusão, prevista para este ano, o projeto deverá gerar 2.500 empregos em Mossoró
    Eu pergunto se algum dia algum empresário recebeu empréstimo como este para instalar uma empresa em Mossoró e se quebra ainda ganhou DOAÇÃO de terreno e isenção de impostos como IPTU e ISSQN. Alguém pode me informar se destes 2.500 empregos prometidos esta empresa emprega pelo menos a metade com CARTEIRA ASSINADA? Não vale incluir estagiários.
    Vocês sabiam que que a doação deste terreno foi aprovada em menos pela Câmara Municipal de Mossoró em menos de dois dias? Não vou nem dizer que teve vereador que votou pela aprovação do projeto sem sequer ler. Até porque isto hoje não mais interessa.
    No dia em que o BNDES me conceder um financiamento com os juros camaradas que pratica eu coloco uma indústria de qualquer em Mossoró. Claro que desejo também doação de um terreno e isenção de impostos. Ou estas benesses são só para os de fora que aqui chegam e depois se vão?
    /////////
    OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS A QUALQUER INSTANTE.

  3. Marcos Pinto. diz:

    Há quem diga que à época da tal concorrência para a compra via licitação de toda a área que compreendia o antigo trajeto da linha férrea, ou seja, compreendendo o trecho da antiga estação ferroviária até a ponte de ferro, houve uma combinata nos bastidores entre a então prefeita Rosalba ROSADUS e os tais empresários, sendo um vinculado à oligarquia ROSADUS por vínculo matrimonial, ou seja, jogo marcado. Ganha a licitação de forma viciada, eis que os ditos empresários combinaram com a prefeita Rosalba para edificar o Teatro Dix-Huit Rosadus e todas aquelas construções, como Praças de esportes, praça da Convivência etc. Feito isto, os empresários acionaram o município, cobrando alto preço pela ocupação das áreas compradas via licitação viciada. Consumada as construções feitas pelo município, seguiu-se o acordo adrede anteriormente combinado entre a prefeita Rosalba e os empresários, para firmarem um acordo judicial sob um vultoso montante a ser pago pelo município, cujo acordo foi realmente efetivado, conforme cópia de sentença homologatória já divulgada pela imprensa. Segundo a mesma fonte, digna de crédito, consumado o acordo judicial, ditos empresários pagaram uma grande parcela a prefeita e seu esposo, cumprindo literalmente o acordo firmado. Resumindo: dita sentença pode ser anulada, posto que o douto Juiz julgador foi induzido a erro, posto que não era sabedor da existência de combinata fraudulenta entre as partes envolvidas no suposto litígio, envolvendo o município e ditos empresários.

  4. Marcos Pinto. diz:

    Em adendo ao comentário anterior: tal acordo configura literalmente a figura do famoso PROPINODUTO VICIOSO E VICIADO. Uma lástima, pois.

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