Por Marcos Pinto
“O passado não é aquilo que passa, mas aquilo que fica do que passou”. (Alceu Amoroso Lima)
Nada mais agradável e instigante do que flagrarmos filigranas de nossos hábitos tão antigos quanto bons. Nesse desiderato, percebemos que somos reduto de observações notáveis, constitutivas de fomento para o descerrar das cortinas de um futuro promissor.
Entremeando, surge a incontestável certeza de que as distâncias da vida nos impõe saudades dos nossos entes, dimensionadas pelos sublimes liames do mais intrínseco e intenso bem-querer.
A sucinta abordagem dessas complexas distâncias do tempo revela lances de inéditas descobertas para solução dos temais mais variados. Oferece contribuições notáveis em problemas complexos ainda não resolvidos. Quando Deus criou o mundo, com certeza deixou o seu veemente DNA intrinsecamente vinculando às distâncias e as saudades.
Não adianta pegar morcego nas asas do tempo, sem bater a macega nos arredores da alma. Diante o terrível quadro de incerto futuro, resta um entalo na garganta, dominado por um certo sentimento de pavor. O inflexível distanciamento entre o passado dolente e o presente escurecido e estático impregna-se uma rubrica de incréu da pior espécie.
Entre a prevenção e a cautela há uma imensurável gama de circunstâncias extraordinárias, que nos arrebata para uma refrega entre as experiências insofismáveis do passado e as encrencas do presente. Nenhum de nós sairá dessa enruga sem levar inequívocos sinais da peleja. Esse caldeamento existente entre as distâncias e as saudades forjou em nossas individualidades uma espécie de heroico D´Atanam sertanejo, cheio de estranho e incontrolável sobresso.
A jornada empreendida entre as paralelas da distância do tempo e a saudade calma e silente deixa-nos enlouquecidos de esperança. É certo que esse perlustrar por atalhos muito fechados incute-nos um pavor que reclama a adoção de estratégias de prevenção. Pululam almas danadas em rincões que apontam saudades irrefreáveis.
As lutas da vida reclamam um intenso pastoreio dos rebanhos de nossas tentações materiais, norteando o azimute das avaliações. É nesse território do tempo que a escola da vida roteiriza um alicerce para a vida, impregnando qualidades da têmpora do caráter, que mais tarde configurará um legado como um grande patrimônio moral. Quando perambulamos por alegre ócio estamos validando o próprio retrato do nomadismo com DNA do dom da ubiquidade.
O território do tempo revela uma mobilidade espantosa, catapultando poetas das solidões noturnas e do abandono das horas esquecidas. Por que não reconhecer que, nesse contexto, somos como uma espécie de príncipes da saudade, sem amor e sem trono. Passamos indiferentemente pelas sombras de nossas recordações nada evocadoras.
Por que não entoar canções sentimentais, cheias de ternuras e de enamoradas esperanças? Assombra-me a certeza da noite sonolenta e fria do meu desfecho existencial. Lá pelos dias mais ou menos distantes, alguém há de lembrar de alguma minudência que fixou o meu nome antes do meu último sol se por.
Temos o majestoso senhor do Tempo empunhando a espada das nobres causas, enfileirando-nos marcialmente como fidalgos empobrecidos e orgulhosos, altivamente desocupados.
Somos insistentes na pobreza, apenas escapando a vida. Em momentos vários somos imaginosos, cheios de inventivas, cínicos para sobreviver à má sorte. Também sem a nossa hora, essa hora que nós próprios escamoteamos, burlamos, evitamos, enganamos, conspurcamos. Por isso que somos, ao mesmo tempo, patéticos e estoicos.
Inté.
Marcos Pinto é advogado e escritor
Onde se lê D´Atanam leia-se D´Artagnam. Onde se lê sobresso leia-se Sobrosso. D´Artagnan foi um dos três mosqueteiros. Os Três Mosqueteiros é um romance histórico escrito pelo francês Alexandre Dumas. … Dumas aceitou este último título notando que seu absurdo (já que seus heróis são ao todo quatro) contribuiria para o sucesso da obra. O que nem todo mundo sabe é que os quatro realmente existiram. Para escrever a obra Os Três Mosqueteiros, o autor se baseou na obra Memórias do Senhor . Historiadores revelam que os três ou quatro mosqueteiros existiram, podem ter se conhecido, mas possivelmente não lutaram juntos. D’Artagnan era mais velho que seus companheiros de luta.