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domingo - 11/09/2016 - 10:40h

De Lacerda a Aécio

Por François Silvestre

A política se faz em ciclos, lições e consequências. O grave é que os ciclos não se completam coerentemente, as lições não são apreendidas e as consequências fogem do controle.

Quando o governo Jango chegou às vésperas das eleições presidenciais, marcadas para 1965, o próprio Jango pensava num saída legal para ser candidato. O PSD já lançara, em convenção, a candidatura de Juscelino Kubistchek, e a UDN fizera o mesmo lançando Carlos Lacerda.

Nas paredes dos muros do Brasil havia a chamada do marketing da época: JK-65. Lacerda flutuava favorito, nas pesquisas. E Jango incendiava o país com a proposta das reformas de base.

Jango fazia o jogo da oposição. Oposição quer instabilidade. O comício da Central do Brasil, no início de Março de 64, foi o pretexto que a Direita precisava para estimular o apoio material, e militar se necessário, dos Estados Unidos, ao golpe de Estado que vinha sendo costurado desde a eleição de JK, em 1955.

A disputa entre americanos e soviéticos, pelo domínio e controle do planeta, punha o Brasil na condição estratégica do interesse do Tio San. Não suportariam uma “grande Cuba”. E era essa a impressão que a Direita demonstrava aos EEUU com as fotos e filmes daquele comício.

Nos quartéis, havia um partido político sem filiação eleitoral. Aqueles generais nunca foram militares, no sentido castrense do termo. Políticos desde que tenentes, nos Anos Vinte; coronéis, nos Anos Quarenta; e generais, nos Anos Sessenta. Políticos e politiqueiros. Só o PSD e a UDN não percebiam isso.

O golpe fascista retirou Jango da disputa e da vida pública. Lacerda participara do núcleo da conspiração. Queria caminho livre. Juscelino apoiou o golpe, depois de consumado, e votou em Castelo Branco, que lhe prometera manter a calendário eleitoral.

Se Castelo fosse militar teria cumprido a promessa. Mas era político, e mentiu. Cassou Juscelino. Lacerda, dessa forma, pensava livrar-se dos únicos candidatos capazes de vencê-lo.

Só que os políticos da caserna tinham outros planos. No segundo governo da Ditadura, Lacerda foi preso e cassado. Para tirar Jango do jogo, Lacerda e Juscelino caíram do cavalo e foram pastar no ostracismo. Sem o apoio deles, a milicada não teria chegado ao poder.

Sem fazer comparação de mérito com o quadro atual, por serem absolutamente distintos, numa coisa há semelhança: A sucessão.

Aécio Neves quase derrota Dilma. Tinha tudo para chegar ao pleito de 2018 na condição de líder inconteste da oposição. Tinha. Passado imperfeito.

A queda de Dilma retira a hegemonia de Aécio. Se Temer der errado, Aécio pagará pelo desgaste. Se der certo, o PMDB vai cobrar a fatura. Num caso ou noutro, Aécio sai perdendo.

“Quem se apressa come cru”. E em política, o apressado pode ser o comido.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. François Silvestre diz:

    Carlos Santos, genial é você. Essas fotos de Aécio e Lacerda dizem mais do que o texto. Perfeitas!

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Menos, mestre.

      Mas lhe faço uma confissão que não esconde de ninguém: admirável orador o Lacerda. Admirável escritor.

      “A Casa do meu avô” é um livro belíssimo.

      Abração

  2. jb diz:

    Será? que Aécio nunca ouviu o avô proferir:”Esperteza, quando é muita, come o dono.”
    Tancredo Neves

  3. Marcos Pinto. diz:

    Meu prezado parente François – que o tenho como primo. Sempre observei a necessidade de se postar os artigos de minha lavra com fotos a sinalizar mais ênfase ao escrito. O nosso amigo Csrlos Santos tem pautado suas postagens com imagens enriquecedoras. Daí que sugiro-lhe sempre acostar aos seus primorosos artigos fotos várias, que se coadunem e contextualizem-se com o texto. Abraçaço.

  4. Marcos Pinto. diz:

    PARABÉNS pela enriquecedora aula de história política brasileira, traçada com precisão cirúrgica sobre essas personalidades que um dia emblematizaram os anais da democracia, como também dos golpes de estado.

  5. fernando diz:

    O Corvo era uma ave do mal.

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