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domingo - 16/10/2016 - 12:32h

Emergente submerso

Por François Silvestre

Não faz muito tempo corria mundo uma informação de que o Brasil estava incluído no rol dos emergentes, com amplas chances de virar potência econômica. Com a descoberta do pré-sal, substituiu-se a demagogia do biocombustível pela mentira da autossuficiência energética.

É bem verdade que não se chegou à ingenuidade de incluir o Brasil entre os países de níveis sociais aceitáveis. Seríamos uma potência econômica, com desigualdades sociais ao modelo paraguaio. O emergente, hoje, é o Paraguai.

Dentre outros emergentes, caso da Rússia, África do Sul e Índia, o quadro é semelhante. Exclui-se a China pelos motivos especialíssimos que cercam aquele mundão de riqueza e miséria habitando o mesmo espaço.

A China fica fora dessa comparação exatamente por ser incomparável. Uma ditadura de casta estatal, indevidamente chamada de comunista, praticante do capitalismo de Estado. Usando mão de obra sub-humana, de baixo custo, enquanto empanturra o mundo com produtos baratos e de qualidade duvidosa.

A Rússia, que saltou do feudalismo para o socialismo de 1917, sem esgotar as fronteiras do próprio feudalismo nem iniciar as relações capitalistas, da previsão de Marx sobre o processo revolucionário de superação dos sistemas econômicos, vive a incerteza de uma economia frágil numa democracia de faz de conta. Saltou etapas, patina nas patas. Potência militar, ainda da herança soviética.

O Brasil, semelhante na euforia emergente, difere bastante da China e da Rússia. Não tem um mercado internacional de trocas sequer próximo ao da China, nem a influência política da Rússia.

Levamos algumas vantagens internas. Somos uma democracia consolidada; ingênua e marota, esperta e bocó, mas formalmente livre. Só formalmente. Materialmente, ainda estamos longe da liberdade.

Não se pode chamar de liberdade material uma realidade onde o poder público não tem autoridade sequer para combater criminosos comuns. Um aparato caríssimo dos poderes constituídos e seus agregados, perdidos na escuridão no meio de uma briga de foice e bala.

O poder público vai de foice e a bandidagem de metralhadora. Tráfico de drogas e armas às escâncaras, sem política de prevenção ou repressão.

Pois bem. De emergente para a emergência. O Produto Interno Bruto empacou, encruado na estagnação. Inflação diária. Liberdades públicas só na Lei, sem chegarem às ruas. Ou aos lares.

Potência? Só se o resto do lado rico do mundo empobrecer, chegando a nós.

Demagogia e mentira armam a tenda e se aboletam no poder. Mentem governo e oposição.  A atividade política regrediu no caráter e prosperou no embuste.

Economia, sem rumo. Segurança pública, um terror. Saúde pública, um tumor. Educação pública, uma lástima.

Creio no futuro do Brasil, por ele mesmo, mas não confundo esperança com ingenuidade ou fanatismo.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Carlos Andre diz:

    Esse negócio de pobre querer acompanhar padrão de vida de rico termina faltando dinheiro até para o feijão com arroz!!!!

  2. João Claudio diz:

    O brasil é um país rico por natureza e gigante apenas geograficamente.

    Depois que os militares entregaram o poder aos civis, o povo brasileiro ainda não sentiu o gostinho de ver um presidente civil sério. Apenas UM, Itamar Franco que já pegou o bonde andando, não esteve envolvido em escândalos, não cedeu à corrupção. Os demais, valha-me Deus, Deus nos acuda.

    Parte dai a educação e a honestidade do povo caminharem em marcha ré, e o país de estar muito distante de atingir níveis sociais aceitáveis. E bota distante nisso.

    Lembrando que atual presidente do país também está envolvido em escândalos. A ultima que saiu, cruz credo.

    Podem ate dar um jeito no ”pirão”. Mas na minha ótica, caso não surja um presidente com três culhões púrpuros para fazer uma mudança radical de A a Z, o ”pirão” tá perdido.

    E olha que o ”pirão” é gigante. São 8.516.000 km² de ”pirão” perdido. É mole? É duro? Não sei! Não sei se botaram farinha demais e virou farofa seca, ou se botaram água demais, faltou farinha e virou caldo.

    O que eu sei mesmo é que o país tem corruptos para vender, alugar, exportar, dar, queimar, afogar, triturar, e não acaba nunca. Todo dia nascem vários.

    Protejam os bolsos e salve-se quem puder.

  3. M. D. R. diz:

    No tempo dos MILITARES, nós éramos felizes e não sabíamos.

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