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domingo - 23/04/2017 - 06:56h

F.P.T.

Por Francisco Edilson Leite Pinto Junior

“O que me cabe aqui embaixo, faço. Não sou juiz, sou parte ou sou testemunha. Meu juiz sabe tudo, vê tudo. Lá em cima, é instância superior”.

(Carlos Lacerda)

Sou um caso sem solução. Apesar de não gostar dessa expressão, mas, como dizem alguns oncologistas: sou um FPT (FPT, caro leitor, não significa Fora PT! Mas sim Fora de Possibilidade Terapêutica). E olha que minha doença foi diagnosticada há tanto tempo.

Dia 25/12/1989, isso mesmo, dia de natal. Dia da minha aula da saudade. A oradora da turma, minha querida colega de curso, Dra. Maria das Vitória disse em alto e bom tom o meu diagnóstico: “Pinto, sempre do contra!”.

Pois é! 28 anos já se passaram e é sempre assim: quando todos estão indo para o mesmo lado, lá vou eu na direção contrária… Não sei se é por influência do meu guru Nelson Rodrigues que dizia que toda unanimidade é burra, mas o fato é que eu pareço até aquele personagem do poema de T. S. Eliot: “Numa terra de fugitivos, aquele que anda em direção contrária parece estar fugindo”… E parece que eu estou mesmo fugindo da mesmice, fugindo da multidão que só enxerga sob o mesmo prisma, fugindo da música que tem uma nota só. E sozinho, fico eu vendo todos do outro lado.

A minha última crise aguda de solidão está acontecendo agora. Enquanto todos pedem a prisão do ex-presidente Lula, lá vou eu implorar para que o juiz Sérgio Moro não faça isso. E olha que ninguém, absolutamente ninguém, nesse país queria mais essa prisão do que eu.

Porém, bastaram chegar as mensagens no WhatsApp dizendo que com a delação devastadora de Leo Pinheiro (ex-presidente da OAS) indicando que Lula tinha solicitado a destruição de provas da corrupção, e assim já poderia ser preso, para eu começar a mudar de lado. Virar a casaca…

Eu sei que o ordenamento jurídico brasileiro no seu artigo 305 do Código Penal afirma: “Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular”… No entanto, a minha dúvida é: pra que prender alguém que já se encontra preso na sua própria consciência?

No livro Dom Casmurro, Machado de Assis coloca muito bem o que significa a terrível prisão feita pelo nosso juiz interior:

A ideia saiu finalmente do cérebro. Era noite, e não pude dormir, por mais que a sacudisse de mim. Também nenhuma noite me passou tão curta. Amanheceu, quando cuidava não ser mais que uma ou duas horas. Saí, supondo deixar a ideia em casa; ela veio comigo. Cá fora tinha a mesma cor escura, as mesmas asas trépidas, e posto avoasse com elas, era como se fosse fixa; eu a levava na retina, não que me encobrisse as coisas externas, mas via-as através dela, com a cor mais pálida que de costume, e sem se demorarem nada”.

Esse terrível juiz interior não permite a ampla defesa e nem muito menos espera que o processo esteja transitado em julgado para realizar a prisão. Lula carregará até o seu túmulo o remorso de que poderia ter feito um país diferente, mas não fez… Ambição, cobiça, vaidade, ingenuidade, mostrar que todo homem tem seu preço, não sei quais as razões do ex-presidente…

Volto a pergunta que não quer calar na minha consciência: Pra que prender Lula se ele nos deu a verdadeira imagem de como funcionam os bastidores pútridos da nossa política? Tudo bem! Alguns vão dizer que sempre foi assim. Carlos Lacerda no seu livro “Rosas e pedras de meu caminho” alertava que “Os políticos são tolerados para salvar as aparências em troca da fisiologia, isto é, do toma-lei-me-dá-verba”…

Mas como homens de pouca fé, como um São Tomé incorrigível de que somos, precisávamos ver para crer… Se não fosse Lula e a escolha “desastrosa” da sua sucessora, que não conseguiu dar suficientemente a verba para obter a lei, nada disso estaria acontecendo.

Concordo plenamente com Carlos Lacerda quando ele dizia que se a vida fosse falada era bem melhor do que escrita… As imagens da delação dos Odebrecht, rindo em alguns momentos e afirmando que tudo sempre foi feito assim de forma natural, nos choca. Ferem-nos. Agridem-nos. Mais uma vez Carlos Lacerda tem razão: “Nada mais perigoso para uma nação do que homens públicos que se portam em relação a ela como se não temessem o julgamento de seus próprios filhos”…

Pois bem! Nem a rainha das telenovelas Janet Clair escreveria um enredo tão interessante: de pedidos inusitados de camarotes para assistir o carnaval a pequena bagatela de trinta milhões de dólares em propina. Tudo sendo feito debaixo do sol, nesse país tropical e abençoado por Deus.

Vendo as imagens das delações veio-me um sentimento de revolta. Lembrei-me de quando dava plantão na emergência do maior hospital do Estado e via milhares de pacientes morrerem por falta de condições de trabalho. Morriam porque uma sala cirúrgica estava interditada há meses por falta de material. Enquanto isso, “a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber era subtraída em tenebrosas transações”. Agora, todos nós sabemos a resposta da dúvida cruel que Cazuza levou para o túmulo: o nome do sócio do Brasil é…

Portanto, mais uma vez imploro ao juiz Sérgio Moro: não prenda o homem! Deixem-no ainda “trabalhar” e nos ajudar. Lula poderá mostrar quem verdadeiramente alimenta todo esse círculo vicioso. Um personagem tão nocivo ao nosso país que, curiosamente, ainda não se encontra nem na lista do Ministro Fachin e nem muito menos na lista do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot: o povo brasileiro.

Esse mesmo povo que tanto critica a reforma trabalhista e a terceirização, mas não se constrange de continuar terceirizando as suas mazelas para os políticos, e que se der uma única oportunidade, faz o ilícito, afinal “tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda”.

Esse mesmo povo (estou aqui me incluindo também) que no auge da sua capacidade intelectual quer se aposentar, para viver teclando mensagens inúteis nas redes sociais, enquanto deveria estar prestando contribuição ao seu país… Deixem Lula solto! Deixem-no se candidatar e ser eleito já no primeiro turno, aí veremos quem – que por sua omissão e inconsequência-, são os verdadeiramente responsáveis pelos políticos que temos…

Por fim, faço minhas as palavras de Mario Sérgio Cortella e Marcelo Tas: “Basta de cidadania obscena!”.

Francisco Edilson Leite Pinto Junior – Professor do Curso de Medicina da UFRN e UnP. Médico cirurgião e escritor. Aluno do terceiro período de Direito da UnP.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Mais uma vez, o médico/escritor FRANCISCO EDILSON LEITE PINTO JUNIOR nos dá uma demonstração cabal do seu “talento” a manifestar irreprochável e induvidável preconceito e reacionarismo com relação à figura histórica, política e pessoal do nordestino eterno Presidente do Brasil, Sr. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

    Para tanto, como à querer fugir desse animal cultural a representar a terrível e fugaz figura do juiz interior entrincheirado no suposto combate à corrupção, se vale do mais golpista e reacionários de todos os brasileiros, até o presente conhecido, o corvo conhecido como CARLOS LACERDA WERNEK, àquele que sabia como ninguém, carregar nas tintas da loquacidade de grande orador moralista/udenista, ao mesmo tempo que desfilava ao longo de sua trajetória jornalistica e política, manifesta incoerência entre o que falava e o que fazia, tendo como pilar da sua história o jaez da farsa como método no que redundou o mais profundo opróbio político a que foi relegado pela própria história, a qual supostamente queria mudar.

    Sei que o tempo presente nos chama. Mas um pouco de História vai bem. Na verdade, vou falar de um passado que é presente…

    Ontem como hoje, sabemos que Carlos Lacerda foi o governador do Rio (e jornalista, e dono de jornal) que fazia oposição violenta contra Getúlio Vargas e o trabalhismo – isso tudo lá nos anos 1950 e 1960.

    Não senhores, deveras não é mera coincidência, oportuno sempre e sempre atentarmos que muitas e muitas vezes a história se repete, como tragédia e (ou) como farsa. No caso da nossa história política, os nossos seguidos hiatos democráticos, sobretudo durante o periodo republicano, bem explicita o conservadorismo suicida e o golpismo permanente e reinante das forças politicas a representar o Status Quo, que ao longo da nossa histroia determinaram de maneira pouco inteligente e cruel, o estofo do nosso modelo de governança, de país e de nação, basicamente autoritário, despótico, excludente e anti-nacional.

    Chamado de “O Corvo” pelos getulistas, Lacerda (ASSIM COMO OS MBL REVOLTADOS ON-LINE ETC) era bancado pelos EUA. E tinha apoio de uma classe média furiosa com os direitos trabalhistas, com a criação da Petrobrás e com a entrada em cena da “ralé” (que passava a definir eleições – votando em Vargas ou nos candidatos apoiados por ele).

    Qual era o discurso de Lacerda? Vargas seria um “corrupto”, um “bandido comandando uma quadrilha”.

    Isso lembra alguma coisa a vocês?

    Pois bem, em 1954, assim como atualemnte vivenciamos, o cerco se apertou. A imprensa passou a falar em “Mar de Lama” no governo. Vargas foi cercado no palácio. E num gesto dramático (esse papo de que no Brasil não há conflitos, e de que tudo se resolve “na boa”, é balela!) o presidente meteu uma bala no peito.

    Ali, Vargas virou o jogo. O povão que começava a ser influenciado pela campanha midiática anti-Vargas, ficou do lado do morto.

    Não preciso dizer que “O Globo” e quase toda a imprensa estavam ao lado de Lacerda contra Vargas. O povão queimou carros e gráfica da família Marinho em 1954 – pra se vingar.

    Pois bem, mais uma vez se constata, confiando na ignorância dos iletrados e excluídos, o conservadorismo brasileiro é tão pouco criativo que nem disfarça.

    Saltemos ao século XXI… Em 2006 (quando o PSDB imaginava que Lula seria derrotado fragorosamente graças ao “Mensalão”), FHC lamentava “a falta que faz um Carlos Lacerda para tocar fogo no palheiro” (POR FAVOR VEJAM AS REPORTAGENS…REPORCAGENS DA ÉPOCA).

    Na falta de um Lacerda de verdade, o PSDB terceirizou (eles são bons nisso): surgiram dezenas de lacerdinhas nos jornais, rádios, TVs e na revista da marginal. São blogueiros e jornalistas que fazem a agitação verbal para o PSDB – reproduzindo o mesmo discurso que hoje escutamos nas ruas: “o PT é uma quadrilha que precisa ser escorraçada”.

    Na campanha de 2014, Aécio Neves surfa nessa onda. Aproveita também os erros do PT e – sem programa que não seja arrocho e desemprego – Aécio tenta ganhar a eleição no grito: “Fora, PT”, “abaixo a corrupção”.

    Nesse contexto, conforme qualquer jurista e (ou) observador medinaoda cena política poderia observar. No caso, para os da extrema direita, não importa se à frente da CHAMDA OPERAÇÃO LAVA-JATO- DIRIA VAZA-JATO, temos um XERIFE TRAVESTIDO DE JUIZ…DOUTRO SÉRGIO FERNADO PARANHOS FLEURY MORO, dia–a-dia rasgando à contituição o Código de Processul Penal e demais leis atinentes à matéria em curso. Sendo sobredito Juiz, incensado e glorificado pela mesma mídia golpista, e por conseguinte criando um exército de anencéfalos a disseminar o o omodus operandi do ódio, do justiçamento, do linchamento público e da criminalização da política como método solução final de todos os nossos conhecidos e seculares problemas de ordem social, econômica, política e cultural.

    As observações do médico/escritor e ora missivista, que tão “profundas” e simplistas beiram o simplório, sobretudo quando, tal e qual aquele telespectador na torcida a assistir o jogo pela televisão e reclamar do centroavante pela perda do gol…Afirma sem meias palavras …

    “Lula carregará até o seu túmulo o remorso de que poderia ter feito um país diferente, mas não fez… Ambição, cobiça, vaidade, ingenuidade, mostrar que todo homem tem seu preço, não sei quais as razões do ex-presidente…”

    Melhor traduzindo, os mesmos que reclamam – PELO MENOS EM TESE -do polulismo, do messianismo, do fisiologismo e da corrupção reinante no conjunto da política e da sociedade brasileira durante 500 (Quinhentos) anos, entendem perfeitamente factível que, atraves apens e tão somente da figura de um homem, transformaria essa realidade dantesca de 05 (Cinco) séculos, tão somente em apenas 10 (Dez) anos.

    Alvitre-se, a opinião de um escritor e médico ora articulista, a qual mais se assemelha a metáfora por mim verberada. Diz respeito, à um país, povo e nação com irrefutáveis contradições e assimetrias de ordem social, cultural, política e econômica que ainda hoje, se afiguram e se descortinam em suas reações internas e externas, tal e qual o modelo de capitanias hereditárias que oficialmente vigiu em tempos antanhos.

    Nesse contexto, a reclamação e as reclamações não raro vazias quando em confronto com a realidade, também, beiram o rídiculo, vez que, não esqueçamos, o ora articulista, médico e cidadão, foi um dos que se engajaram ao mais excludente, podre e sórdido movimento corporativista da classe médica nacional, lutando “bravamente” contra a vinda dos médicos cubanos ao nosso país, e, consequentemente, mais uma vez demonstrou cabalmente de que lado efetivamente sempre esteve.

    Por útimo, oportuno lembrar que, apesar da manifesta incoerência entre o que dizia e o que fazia, Lacerda ainda tinha estilo. Os do PESSEDEBESTA demasi siglas partida´rias a comportam a extrema direita, tido personas como Alkmim, Aécio e mais um farsante Chamado João Dória só tem a Globo, a Veja e seus milhões de lacerdinhas amestrados.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  2. João Claudio diz:

    ”Cortaram o rabo mas não cortaram a cabeça da Jararaca”.

    Ainda precisa dizer que ”ele” era e continua sendo nocivo ao brasil? Ou o ato de roubar os cofres públicos e praticar toda especie de maracutaia não significa nada?

    O ”eterno” ex presidente da republica é o maior corrupto da história do Planeta Terra e chefe da maior quadrilha de bandidos já vista no mundo.

    Em breve a sua mascara cairá de vez na lama pútrida que Ele & Cia fabricaram.

    O depoimento do ELEMENTO foi adiado para o dia 10 de maio, se antes ele não for em cana e fique por lá uns merecidos anos. É isso que o povo honesto quer ver. Os coniventes com o lalau, continuam coniventes e morrerão coniventes. Ser fiel aos bandidos da $eita faz parte dos mandamentos da $eita. É fato.

    Concluindo, respeitem o Xerife………O Xerife merece respeito…….O Xerife não tem o rabo preso a ninguém. Portanto, CA-LA-DOS!

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