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domingo - 12/06/2016 - 03:21h

Me descobri preconceituosa

Por Beatriz Franco

Me descobri preconceituosa. Eu, que defendo tanto a igualdade de gêneros, de cor, de religião, que tenho amigos gays, nordestinos, evangélicos, jovens, velhos, com dinheiro e sem, até coxinhas e petralhas! Vários tipos de rótulos.

Explico: Nos últimos meses, minha área de trabalho – como muitas – está muito ruim. Em quatro meses não consegui quase nada. Então, depois de meses me enterrando num sofá perdendo tempo, vida e dinheiro, surgiu a oportunidade de ajudar uma amiga atendendo clientes em sua loja de doces. Quatro vezes por semana, período da tarde, remunerado.

Uma boa forma de ocupar a cabeça, sair de casa e ter algum dinheiro. Foi aí que veio o primeiro julgamento: Eu, balconista? Jornalista, três idiomas, currículo em comunicação, trabalhando de touquinha na cabeça servindo os outros? Foi difícil tomar essa decisão, mas aceitei, estou precisando.

Dias depois, a cena durante a tarde, limpando uma das mesas, ouvi dois clientes conversando: “Coloco acento em ‘tem’? Mudou com a nova ortografia?” “Não sei. Não entendo.” E eu ali me remoendo pra dizer “eu sei, eu sei!!!”.

Mas, eu era só uma atendente e eles não iriam acreditar que eu sabia. Depois a barreira seguinte: conhecidos e colegas antigos entrarem na loja e me verem nessa função. “O que eles vão pensar? Eles não sabem como cheguei até aqui, que a dona é minha amiga, vão pensar que não dei certo na vida.”

Dá pra entender como isso é errado??? Era com essa inferioridade que eu via os outros atendentes, balconistas e nunca tinha percebido! Sentia vergonha por estar em um trabalho honesto, justo, que traz alegria para as pessoas, que auxilia os outros? Eu deveria é ter vergonha de mim por pensar assim, por tanta falta de humildade e empatia.

Por um preconceito idiota eu ia perder a chance de conhecer tanta gente nova como nas últimas três semanas, de ouvir tantas histórias de vida como sempre gostei de fazer, de aprender um novo trabalho, de ajudar uma amiga, de ter dinheiro pra comprar uma nova bicicleta, pra ir no casamento de uma amiga em outra cidade, de viver!

Em tão pouco tempo, esse trabalho que eu achava tão inferior já me ajudou a estar mais feliz, disposta, a ter novas ideias, entender como uma pequena empresa funciona, a buscar cursos para aprender mais.

Como dizia meu avô: A vida não é como a gente quer, é como ela se apresenta! Então, estou aqui aceitando com muito amor e gratidão o que me foi apresentado. Aceitando novas formas de crescer e evoluir com, por enquanto, um preconceito a menos.

Hoje, estou aqui, jornalista, tradutora, professora de idiomas, aprendiz de gestora e sim, atendente de um ateliê de doces. E o que mais precisar, a gente aprende a fazer também! E, modéstia à parte, eu tbm fico linda de touquinha! :p

Esse textão é pra tirar de uma vez essa vergonha de mim, para agradecer pela confiança e apoio dos queridos amigos VeronicaBrunoFelipe, pelo empurrão dos meus pais EdnaOrlando e, talvez, se não for me achar muito, ajudar alguém a fazer a mesma reflexão e dar um passo à frente se for o momento.

Beatriz Franco é jornalista, professora de idiomas e tradutora

* Texto originalmente publicado no Facebook da autora.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
    Rui Barbosa
    ////
    A esta jornalista só posso dizer que uma sociedade que inverte os valores está condenada a desaparecer.
    Enquanto nulidades são guindadas a cargos com os quais nunca sonharam, por força do parentesco ou do QI (quem indica), lembrando jabotis em copa de mangueira, outros que se prepararam varando madrugadas megulhadas em livros amargam o gosto de não poderem desenvolver todas suas aptidões.
    Vá em frente. moça. Com a qualidade do seu texto não é possível que uma porta não se abra para você.
    Deus sempre manda alguém.

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Cara Beatriz Franco
    Anualmente as Forças Armadas realizam concurso para a área de Comunicação Social. Aprovada no concurso você realizará um pequeno estágio REMUNERADO onde aprenderá regulamentos militares etc.
    Maiores detalhes você conseguira acessando os sites da MARINHA, EXÉRCITO E AERONÁUTICA.
    O salário inicial gira em torno de 7 mil reais.
    Concursos também são realizados para admissão de médicos, dentistas, enfermeiras e outras profissões de nível superior.
    Outra opção é você vasculhar no JORNAL DOS CONCURSOS.
    Você é jovem, preparada e INTELIGENTE. Não espere acontecer. Faça acontecer.
    Que Deus nos proteja.
    ///////////
    OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS ANTES DA PASSAGEM DO COMETA HALLEY EM 2061?

  3. nildo silva diz:

    Muito bom!Belo texto.Descreve muito a realidade de tantos!Parabéns!

  4. naide maria rosado de souza diz:

    Prezada jornalista. Não gostei, desculpe. Diga-me qual o seu mérito em ter , entre tantos amigos, os nordestinos, ou defender-lhes a amizade? Lembrou-me um fato ocorrido há anos em minha vida. Meu irmão Carlinhos e eu estávamos numa festa. Conversávamos com um grupo. De repente, alguém disse: “Aquele que acabou de entrar é pau de arara, nordestino… paraíba…não erro.” Injuriada e bem simpática dirigi-me ao campeão da naturalidade e disse: vamos ver se acerta….eu sou… Responde o especialista: “GAÚCHA”. Muito bem, digo eu…e esse rapaz aqui ? (meu irmão)… Responde o especialista, “Gaúcho, também, claro!” Cara, disse eu, você erra muito. Somos NORDESTINOS, nascemos em Natal, RN…próximo à Paraíba, mas quem nasce na Paraíba é paraibano, adjetivo pátrio, como diz a língua portuguesa. Paraíba é a forma genérica de ridicularizar o nordestino. Houve um mal estar geral, dissipado por alguma pessoa de boa cintura. Não gostei de estar em seu “rótulo” de defesa. Então, jovem Beatriz Franco, mostre sua amizade de modo geral. Quando especifica, descrimina. Diga assim: admiro as pessoas independentemente de sua cor,religiosidade ou credo, cor, sexualidade e naturalidade…Da outra forma, encontrará minha resistência porque amo ser nordestina, potiguar, natalense…rio grandense do norte. Eis minha bandeira amada!

  5. naide maria rosado de souza diz:

    Corrigindo: Discrimina .

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