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domingo - 12/02/2017 - 08:33h

Memória e esquecimento – a luta

Por Marcos Pinto

A retentiva do tempo me induz e conduz   para uma antológica reflexão do parente e amigo   e consagrado escritor potiguar Manoel Onofre Júnior, que consiste na incisiva e   peremptória afirmativa de que   “a vida é uma grande reflexão   sobre essa luta entre o tempo e a memória.  A memória tentando recuperar o tempo e o tempo apagando coisas”.

Diante toda essa atual violência predominante, há como que uma compulsão em fugir para o passados em desabalada carreira.   É nesse instigante pretérito de natureza íntima que encontro refúgio para a gula da alma em transes   transcendentais. Não tenho   dúvidas de que é no meridiano das minudências espirituais   onde todas as verdades se   insultam e se insinuam.

É também, aí, onde adentra o desiderato do poeta   notívago, recomendando de forma sôfrega   e ansiosa, que é   chegado o momento de escondermos os estilingues   e virarmos   beija-flores, sem deixarmos lacunas para inoportunas e indesejáveis e repulsantes pilantragens.

Nessa azáfama toda, há necessidade   premente   de definição das minudências, após tanto tempo distante do ego, alertando para o considerável desafio do vácuo das realizações. Os bastidores do espírito entram em transe   desgastante.

Vivemos a modernidade sob a predominância pungente   de comportamentos erráticos em sincronia com uma insana desconexão com a verdade –  o que é um perigo à harmonia com as coisas da alma.   Somos, hoje, mais zumbis que gente.   Somos uma legião de fantasmas mais assustados que assustadores.

Há mais de 80 anos o grande poeta e escritor potiguar Eloy de Souza, irmão da poetisa Alta de Souza, afirmou que “pior do que caminhar   40 anos no deserto é chegar à terra da promissão e sentir saudades do   deserto”.

É exatamente nos segmentos sociais mais humildes, onde a pobreza franciscana faz   morada, que nos deparamos com a incontestável   certeza de que um dos únicos bens que a miséria   não extingue é a solidariedade.   E não me venham os materialistas dialéticos dizerem que isso é um   diapasão   sentimental por demais    piegas.

Nada mais enleante do que o conhecimento das histórias daqueles que, sob o signo da humildade material galgam os mais elevados patamares da pirâmide social. Vemos nos olhos desses heróis anônimos o desfilar de   palavras que denotam que os mesmos    conhecem o gosto da glória sob a batuta e a   ingente sinfonia do sacrifício.

Foi inserido nesse contexto de verdades e magníficas e emblemáticas realizações pessoais, que o famoso poeta pernambucano Antônio Marinho cunhou uma definidora frase, observando que “a morte é devoradora e a todos nós amedronta.  A vida é quem bate o prego e a morte é   quem vira a   ponta”.

Compunge-nos a certeza de que todos mecanismos e dispositivos de relacionamentos sociais como Facebook, WhatsApp, Instagram   e   outros congêneres tem sopitado os nobres sentimentos da alma.

Cada um na sua e ninguém na de ninguém.  A doentia e insana diferença chega ao cúmulo de nos levar   a presenciar cenas deprimentes de pessoas sucumbindo à fome, morrendo à míngua, sem que   ninguém estique a mão para dar um pão para saciá-los.  É quando o coração se torna um túmulo sem epitáfio, escondendo um morto anônimo e possibilidades   fraternais   enterradas.

Que   me denominem de piegas de marca maior, mas só gosto de   falar de coisas que “só batem nos que conjugam a metáfora do peso dos anos”.

Tento esquecer a certeza de que a atual vida pública nacional é uma mistura de hipocrisia, conchavos e acobertamentos estratégicos   protagonizados pelos que compõem  o Congresso nacional, sob o olhar cúmplice da Suprema Corte Federal.  Pior ainda é essa gestão federal que nos governa e asfixia   com medidas penalizantes aos direitos sociais conquistados nos últimos 13 anos.

Quando a solidão se me faz companheira   irredutível, sou cobrado por amigos que reclamam minha prolongada ausência dos eventos sociais. Nesse momento me socorro e me valho da lição de vida esposada na frase do saudoso e memorável amigo historiador Raimundo Nonato da Silva, que sentencia:

“É   preciso ter acompanhado a trajetória do tempo para compreender as distâncias –  geográfica e social –  que separam os grupos e isolam as pessoas em certas latitudes da   vida”.

Inté!

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    Onde se lê Repulsastes pilantragens LEIA-SE Repulsantes pilantragens. Onde se lê Alta de Souza leia-se Auta de Souza. Onde se lê “…nada mais enleante leia-se nada mais enlevante. Obrigadoooo.

  2. Nazaré Brandão Noronha diz:

    Mais um Artigo de luxo assim posso dizer, escrito por essa pessoa a qual admiro muito pela sua capacidade de raciocínio…existem as pessoas estudiosas e as inteligentes, Marcos Pinto é inteligentíssimo…imaginem escrever um Artigo dentro de poucas horas não é para qualquer um.

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