• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 18/12/2016 - 17:01h

O pós-Itália e o pré-Brasil

Por Nelson Motta

Depois do fracasso da Operação Mãos Limpas na Itália, derrotada por novas leis que facilitavam a prescrição de crimes e a absolvição de corruptos, o “não-político” Berlusconi se tornou o capo de novas alianças com velhos adversários, também ameaçados, que se uniram para “salvar a economia devastada pela Mãos Limpas”, ou seja, para enquadrar o Judiciário e salvar a pele, voltando ao poder com mais força do que antes.

Em 1994, cansados da crise e da recessão, os italianos aceitaram que, sem corrupção, não há crescimento econômico. Resultado: hoje a Itália tem o maior índice de corrupção do Primeiro Mundo, e o pior desempenho econômico, com o PIB estagnado no nível do ano 2000.

Os dados das pesquisas italianas citados pela economista Maria Cristina Pinotti falam alto e gesticulam muito:

Só 25% dos italianos consideram o seu Judiciário independente, contra 54% dos franceses e 69% dos alemães. Para 42% dos italianos, os juízes aceitam pressões políticas, contra 29% dos franceses e só 14% dos alemães. Na Itália, um processo de primeira instância leva em média 577 dias para ser julgado, contra 322 na França e 189 na Alemanha.

No Brasil, juízes de primeira instância são heróis anônimos, que enfrentam concursos duríssimos e são diferentes das castas que ocupam os tribunais superiores, em que a nomeação também depende de apoio político, estabelecendo privilégios e relações perigosas, que agora estão em choque e em xeque.

Fustigado pela PGR e a Lava-Jato, o Senado rompeu o pacto de cumplicidade com o Judiciário VIP e aprovou leis duras e justas sobre o teto salarial constitucional, atingindo os marajás dos Três Poderes, como exigem a Constituição e a sociedade que paga a conta.

Coibir o abuso de autoridade não pode ser só uma vingança de Renan, precisa ser discutido com serenidade e punido com regras claras, que não permitam interpretações em que os bandidos julguem os xerifes por cumprirem a lei.

Pós-Itália não é só um codinome na planilha de propinas da Odebrecht, é um aviso: o desastre italiano mostrou que não é a Justiça que prejudica a economia, mas a corrupção institucionalizada.

Nelson Motta é jornalista

* Texto originalmente publicado em O Globo.

Compartilhe:
Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “o desastre italiano mostrou que não é a Justiça que prejudica a economia, mas a corrupção institucionalizada.”
    Tudo se resume à corrupção.
    Uma sociedade que trata com tapete vermelhos corruptos está condenada a desaparecer.
    Uma religião que prestigia corruptos, entregando-lhe a direção de movimentos religiosos e permite o uso da imagem da padroeira de cidades em campanhas políticas, condena-se ao esvaziamento.
    O que se esperar das próximas gerações que assistem a tudo isto com perplexidade?
    Ou mudamos a forma de tratar os corruptos ou iremos sumir como sociedade em breve.
    Por que é tão difícil entenderem isto?
    /////
    OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS APÓS A PASSAGEM DO HALLEY EM 2061?

  2. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    O mesmo sistema judicial que tem protagonizado espetáculos degradantes de desrespeito aos direitos mais básicos do ser humano, é o mesmo que abriga os maiores marajás do serviço público. Muitos blogs, e até a velha mídia, têm publicado contra-cheques mostrando os altíssimos salários de desembargadores e procuradores (que agridem os brasileiros que trabalham honestamente a troco de quase nada), mas esses contra-cheques são da arraia-miúda do sistema judicial. Os verdadeiros marajás ganham quase dez vezes mais do que tem sido denunciado:

    Fonte a “insuspeitíssima Rede Bobo de Televisão….!!!

    E a manifesta seletividade dos que formataram, planejaram e executaram o golpe em curso, tem uma peculiaridade, inclusive, e principalmente de parte do XERIFE , digo. juizeco Sr. SÉRGIO FERNANDO MORO, qaundo de suas falas e audîências….!!!!

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. João Claudio diz:

    ”Em 1994, cansados da crise e da recessão, os italianos aceitaram que, sem corrupção, não há crescimento econômico”.

    A depender dos corruptos brasileiros, a corrupção não pode parar:

    ”Quando tudo isso terminar (Operação Lava Jato), você pode ter muita gente presa, mas pode também ter milhões de desempregados neste país”.

    (Frase dita pelo ”Amigo” de Marcelo e Emílio Odebrecth, advertindo claramente que sem corrupção o país não cresce).

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.