Por Paulo Linhares
No universo cultural brasileiro, a carne tem um forte acento: a carne de sol dos nordestinos e o churrasco dos sulistas, o charque, frangos, perus e leitões, os defumados e embutidos. Na literatura deu tÃtulo a conhecidas obras, como A Carne, romance do naturalista Júlio Ribeiro (ele ocupou a cadeira 24 da ABL-Academia Brasileira de Letras), publicado em 1888, ou Navalha na Carne, a peça famosa de PlÃnio Marcos, de 1967, ou aquela canção, intitulada A Carne, na voz poderosa de Elza Soares, com aquele refrão incômodo, embora verdadeiro: “...A carne mais barata do mercado é a carne negra!” Agora, a carne aparece nos noticiários como protagonista de um grande escândalo.
No momento em que um dos mais importantes setores do agronegócio brasileiro, o da produção de carnes, conquista o exigente mercado norte-americano, foi deflagrada em Curitiba mais uma espetaculosa e midiática operação da PolÃcia Federal denominado Carne Fraca, tendo como alvos os principais frigorÃficos do Brasil, como o Mastercarnes e o Peccin, além dos grupos BRF Brasil, que controla a Sadia e a Perdigão, e o JBS, que detém as marcas Friboi, Seara e Swift. Vários executivos e servidores públicos foram presos, além da apreensão de muitos documentos e computadores.
A acusação básica trata da relação promÃscua entre a fiscalização federal de produtos de origem animal pelo Ministério da Agricultura e Pesca, superintendências regionais do Paraná, Goiás e Minas Gerais, com essas empresas, em detrimento do consumidor e da saúde pública: ‘turbinada’ por propinas a fiscalização fazia vistas grossas para diversas irregularidades nos processos de manufatura de carnes, inclusive com a utilização de substâncias quÃmicas perigosas para ‘maquiar’ esses produtos, disfarçando-lhes a má qualidade e até a inadequação para consumo humano.
No entanto, o alarde com que essas notÃcias chegaram à s mÃdias sociais vem causando uma histeria coletiva a partir da premissa (falsa) de que todas as carnes dessas empresas são de péssima qualidade, com validades vencidas, podres etc. Nada disso. Claro, o afrouxamento criminoso da fiscalização federal, nestes casos, certamente deu azo a adulterações de produtos, com infringência de normas legais, porém, parece exagerado imaginar que as carnes e seus derivados produzidos por essas empresas – algumas de longa tradição no mercado nacional e estrangeiro – sejam ruins e danosas para o consumidor.
Aliás, há leituras preocupantes desse episódio. A primeira relata que, dos três mais importantes setores da economia brasileira, com liderança mundial – o petrolÃfero, o da indústria da construção de grandes obras de engenharia e o agronegócio de produção de carnes – dois já foram profundamente fragilizados desde que se tornaram alvos da Operação Lava Jato.
Os efeitos são visÃveis: na privatização de quatro aeroportos brasileiros que o governo federal fez recentemente, todos os vencedores das licitações foram grupos estrangeiros, pois, as grandes empreiteiras do Brasil – Odebrecht, OAS, UTC, Camargo Correia – não tiveram condições econômico-financeiras e até legais de participar. Agora, na alça de mira está o poderoso e eficiente setor da produção de carnes, cuja cadeia produtiva (cluster) atinge US$ 15 bilhões por ano.
A operação da PolÃcia Federal denominado Carne Fraca (e já apelidada de “Operação Vaca a Jato”…) que teve inÃcio na última sexta-feira (17 de março),  derrubou as ações da JBS e da BRF, que fecharam em queda de 10,58% e 7,25%, respectivamente. Para se ter uma ideia da gravidade disso, o grupo JBS perdeu em um dia 3,456 bilhões de reais, com a redução de 32,632 bilhões de reais para 29,643 bilhões de reais entre os dias 16 e 17 de março. Já a BRF perdeu 2,31 bilhões de reais no mesmo perÃodo e fechou a semana valendo 29,317 bilhões de reais.
ENFIM, todo o esforço de quase três décadas que possibilitou uma presença vigorosa desse setor no mercado mundial, inclusive no competitivo mercado norte-americano, vai pelo ralo, com impacto devastador para milhares de pequenos produtores que fazem parte da cadeia produtiva da proteÃna animal e fornecem matéria-prima para os grandes frigorÃficos. Mesmo sem apelo à s teorias conspiratórias, parece evidente que tudo vem ocorrendo para prejudicar as empresas brasileiras de carnes, tirando-lhes a credibilidade nesse setor muito sensÃvel que é o da produção e comercialização de gêneros alimentÃcios. Ressalte-se que está defesa das empresas nacionais nada tem a ver com desmandos e abusos que, pontualmente, cometam, sobretudo, quando põem em risco a saúde pública e os direitos do consumidor brasileiro.
O aparato judiciário-policial brasileiro cuida desse trabalho sujo e antinacional através da “Operação Vaca a Jato”. Delenda JBS, BRF e outros bichos mais: assim deseja o “grande irmão do Norte” sob o reinado de Tangerine Trump.
Sem dúvida, embaixo dessa carne fraca, isto sim, certamente há muita imundÃcie, carniça pura. Agora, porém, a briga é de cachorrões: Juizes, MPF e PolÃcia Federal definitivamente estragaram o churrasco da turma da Casa-Grande.
A grande imprensa tupiniquim – Globo, Veja, Folha, Estadão etc. -, esquecendo os generosos e não menos ilÃcitos vazamentos de dados processuais de que era beneficiária, agora ‘desce a ripa’ com força nos seus fervorosos parceiros encastelados na azeitada máquina repressora federal da República de Curitiba, tratando-os, no mÃnimo, como “porras-loucas”.
Afinal, nestes tempos bicudos, sem Sadia, Friboi, Seara, Perdigão e outros bichos mais, o cardápio publicitário se tornará reduzidÃssimo, com insuportáveis prejuÃzos para esses veÃculos midiáticos.
Bem feito!
Paulo Linhares é professor e advogado
Está correto o governo. Todos os aeroportos tem de ser privatizados. Se os gringos comprarem, estarão em boas mãos.
Nas mãos do governo ó, é ”pirru” na certa, haja vista administradores e funcionários levarem $$$ do aeroporto pra casa todos os dias.
João Dória, prefeito de São Paulo diz que privatizará ainda neste ano o autódromo de Interlagos e o Anhembi.
Parabéns, ”prefeitão”. O correto é vender tudo e aprender a fazer o básico. Saúde, Educação e segurança.
Bem que a prefeita poderia copiar a ideia fazer o mesmo com o Nogueirão, com o ginásio de esportes, teatro, enfim, vender tudo quanto é ”circo”.