• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 03/04/2011 - 12:07h

Outro olhar sobre o BBB e à infinita curiosidade humana


Na faculdade, na pracinha da cidade microscópica do sertão, no chá das cinco das senhoras elegantes (em "roupas de marca"), nas redes sociais… não importa. O Big Brother Brasil (BBB) é objeto de discussão. Prós e contras à mesa.

Temos um burburinho em torno do quem é quem entre seus personagens "enjaulados", numa espécie de debate nacional sobre caráter, estética, caras e bocas. Quem é feio, quem é bonito, quem é homossexual ou é "gostosa".

Enfim, porque tantos e tantos de nós levam o BBB a sério demais ou procuram ignorá-lo da forma mais caricata possível: o criticando ferozmente?

Tenho uma teoria. De leigo, lógico. Não sou estudioso, cientista, capaz de empinar uma tese baseada em mecanismos de aferição.

Pronuncio-me, entretanto, como gente de carne e osso, já com longa vivência e interesse por questões relacionadas à sociologia, psicologia, psicologia social, comunicação, antropologia, história etc.

Leigo, reitero, sou leigo.

Um curioso, interessado nessas áreas do conhecimento, que tem opinião formada sobre o sucesso do BBB entre os que o adoram e até entre os que o destestam. É uma situação ambígua, que por vezes chega a ser ridícula.

Como discutir algo que não nos interessa? Eu, particularmente, quando não quero algo, tomo distância e adoto o silêncio como reprovação.

Remoer nome de quem não simpatizo ou assunto que me magoa, é exteriorizar dor ou manifestar sentimento que só aflige uma pessoa: Carlos Santos.

Sobre gente e coisas só cuido do que gosto, pois me faz bem. Coisas, uso; gente, gosto.

No caso do BBB, não possuo um motivo para detestá-lo.  TV, no geral, vejo muito pouco. Não me sinto emburrecido por gostar de novela de época e futebol, além de esporadicamente acompanhar o "Jornal Nacional".

O BBB XI vi superficialmente e não me interessei, só isso. Em outras edições cheguei até a ser assíduo, com olhar mais atento a algumas mulheres fornidas e ao aspecto psicológico, em face do confinamento continuado.

Fácil perceber como todas as mascáras caem com o tempo. Isso vale para minha vida no mundo real, longe do estrelato, das câmeras. O BBB é uma metáfora da própria vida, louca vida recheada de sentimentos puerís, superficialidade e hipocrisia.

Somos um pouco BBB na vida real até sermos descobertos. Ou não.

Quem manifesta repulsa por sua fórmula, certamente já o assistiu e não gostou por esse ou aquele motivo. Porém vejo que a principal razão é mesmo o preconceito ou verniz intelectual.

Drummond

O poeta Carlos Drummond era aficcionado por novelas globais. Só assumia compromissos para antes ou depois da sua diversão. Mas quase ninguém sabe ou assinala isso, para supostamente não "desmerecê-lo". Bobagem.

Lógico que é um direito não gostar, repudiá-lo e até mesmo vomitar com essa experiência de gente em cativeiro, de forma consentida, em busca de R$ 1,5 milhão e holofotes. Respeito às diferenças, é fundamental numa sociedade moderna.

O interesse pelo BBB, mesmo daqueles que não o vêem, é uma manifestação normal.

O programa é a representação da casa do vizinho, provocando nossa curiosidade inata pela vida alheia. É uma crônica diária na TV, que substitui o ouvido na parede, a fresta na janela, a bisbilhotice por trás da porta, a espiadela na discussão na esquina.

Falar da vida alheia não é apenas um hábito terceiro-mundista, é um esporte planetário e milenar. Remonta às primeiras organizações sociais, mesmo antes do advento do Estado moderno. Somos assim mesmo, em menor ou maior escala.

Talvez a chave principal de seu poder de galvanizar a atenção de milhões de pessoas, seja a curiosidade que temos. Ninguém fica mais burro ou menos burro por acompanhar o BBB. Disperso, distanciado de questões mais relevantes, socialmente, sim.

A curiosidade é a chave das descobertas geniais ou das estupidezes irremediáveis. Entre nós, bichos humanos, mas também entre os chamados seres irracionais.

Gente trancada para servir à apreciação alheia, nesses moldes, é novidade. Mas não é algo totalmente novo.

Negros foram levados para a Europa no final do século XIX, vindos de colônias africanas, para exposição na Bélgica. Eram mostrados com trajes típicos e acorrentados, com simulação de cenários, para que a "raça superior" pudesse entender o que seria um humano primitivo.

A imagem era bizarra e atraía milhares de curiosos. Não faltava o detalhe da recomendação escrita, de que os visitantes não poderiam alimentá-los, idêntico ao que é assinalado em zoológicos.

Na "Ilha Shark" (Namíbia, África), no começo do século passado, os alemães, muito antes de Hitler e do nazismo, segregaram e mataram milhares de componentes das etnias "hereró" e "namaqua", em campos de concentração. Tinham trabalho forçado até a morte. Um genocídio.

Nessas duas experiências que cito, acima, tivemos os protótipos do BBB, com a faceta da crueldade humana. Quanto ao BBB moderno, há um encarceramento  adotado por seus participantes, com a ânsia do capital e  pela aspiração que cada um manifesta em sair do anonimato.

Do outro lado, diante da TV, somos um pouco desse europeu "civilizado", que olha com nojo ou com admiração esses bichos presos. E muitos, não possuem a coragem de confessar, que adorariam ser um BBB. Menos mal.

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. Francisco Edvan de Queiroz diz:

    Não sei até que ponto os acontecimentos e participantes do BBB são expontâneos e sem nenhuma interferência dos administradores do programa. Mas este papo de que intelectual não assiste ao programa é discurso hipócrita. A nossa curiosidade humana nos impulsina a espiar. Não seremos mais ou menos inteligentes porque assistimos o BBB ou outro programa dito não instrutivo pela crítica intelectual. Seremos sim, imbecis quando não soubermos distinguir, analisar, discordar, argumentar e perceber os fatos e suas implicações. A alienação e a manipulação do ser humano pela mídia depende do seu grau de discernimento e de sua capacidade intelectual. A capacidade cognitiva precisa agregar o conhecimento dos espaços estritamente técnicos e eruditos, com diversos graus de experiências e vivências não acadêmicas. o BBB proporciona que diferentes culturas, profissionais, filosofias e opções sexuais convivam e aprendam a se tolerar no mesmo espaço físico, e o que mais precisamos no mundo atual é tolerãncia e respeito.

  2. zé roberto diz:

    Que merda!
    Isso,é mais ou menos parecido,ou,cabe,aos intelectualóides,que dizem não ouvir ou fala mal de Roberto Carlos,e,na sua ALCOVA,com sua horrorosa companheira,choram e cagam,ouvindo as melosas canções do Rei(De que ?). ”
    “Por que me arrasto aos seus pés…”

  3. Francisco diz:

    Eu acho é pouco, viva o Brasil, país de imbecis………. e ainda acreditam que o lulinha pagou a dívida externa e que somos um pais de primeiro mundo………. toda peia é pouca……. viva faustão, guguzinho e as bandas de forró…… é pouco…… que venha mais …….. viva o BBB 12 que venha logo.

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