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domingo - 05/02/2017 - 08:00h

Para Florentino Vereda

Por François Silvestre

A poesia é a única prova concreta da existência do homem”. Coloquei, na placa da Praça da Poesia, esta citação e o nome do seu autor. Luis Cardoza y Aragón.

Minha surpresa foi o quase completo desconhecimento da existência de Aragón, no universo intelectual da província. Um poeta famoso da terrinha olhou a placa, fez uma careta, e perguntou: “Quem é”?

A Praça da Poesia é um pequeno espaço, na área do Palácio Potengi, onde se aboleta a Pinacoteca do Estado. O prédio estava em estado de risco. Além de maltratado nas estruturas, havia uma linha na armação principal que ameaçava desabar sobre o sistema geral de climatização.

Era o risco iminente de desastre elétrico. Imagine um acidente na eletricidade de um prédio recheado de madeira, tecidos e tintas. Telas, molduras e materiais de exposição. Era como acender um fósforo num recipiente de gasolina. Decidi restaurar e recuperar o imóvel histórico. E o fiz.

Volto à pracinha da poesia. Atendi a um apelo de Alexandre Dunga Garcia, líder da bela e nobre pobreza do Beco da Lama. Nem sei se a Praça ainda existe. O que não foi destruído foi abandonado, sob o olhar complacente dos ditos órgãos de controle. Abandonar ou destruir não gera cobrança.

Pus na placa da Praça a citação de Aragón, de que o homem se prova existente pela invenção da poesia. E não pela pompa das edificações monumentais.

Um intelectual renomado, numa praça de shopping, perguntou se a citação não era de Octávio Paz. Ele não conhecia e achava pouco provável ser de um desconhecido seu. Essa coisa que só a vaidade explica. Respondi que o grande pensador Mexicano jamais furtaria o crédito.

Luis Cardoza y Aragón foi poeta, diplomata e resistente democrata na Guatemala. Viveu mais tempo no exílio do que em casa.

Num dos intervalos da exceção, ele foi designado embaixador na Colômbia. E estava lá, numa noite de terror do mês de Abril de 1948. O líder populista Jorge Eliécer Gaitán foi assassinado, o que provocou uma onda de terror pelas ruas de Bogotá.

Muitos dos perseguidos, naquela noite, buscaram refúgio na embaixada da Guatemala. Gabriel Garcia Marques, no seu livro memórias, quase depoimento, conta o episódio e diz que a Colômbia entrou no Século Vinte naquele dia.

E foi o autor dos “Cem Anos de Solidão” quem fez um retrato falado do caráter de Luis Cardoza y Aragón. O caráter político e o talento poético. E repetiu a máxima desconhecida de alguns dos nossos intelectuais cadastrados.

Quando Florentino Vereda chegou do Jalapão, ficou abismado com a ignorância e comentou: “Isso é coisa de vocês intelectuais”. Mal sabia ele que Jenicleide, à sua revelia, já requerera sua inscrição nesse cadastramento.

E o coquetel do evento será regado a licor de mangaba e batida de araticum-cagão.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Honório de Medeiros diz:

    Dou fé acerca dessa informação veiculada por François, em belo texto, acerca da ação de Jenicleide inscrevendo o misterioso Florentino Vereda dentre os intelectuais potiguares.

  2. naide maria rosado de souza diz:

    Notável texto de François Silvestre e adorável comentário de Honório de Medeiros. Eis o prazer da leitura.
    Jenicleide se esforçou em premiar Florentino com autoria de frase tão bela. A existência humana comprovada pela poesia, não por erros e guerras.
    Gabriel García Márquez define Aragon esplendidamente. Aliás, receber comentários de Márquez é glória. A ele, diria : “Llamame fea…y voy a ser feliz.”

  3. Marcos Pinto. diz:

    fue un poeta, ensayista y diplomático guatemalteco, sin duda uno de los intelectuales más importantes del siglo XX en Guatemala. Nació en la ciudad de Antigua Guatemala, pero pasó gran parte de su vida afincado, por razones de exilio político, en México, donde falleció. Por su longevidad y universalidad cultural, su obra es profusa y variada, dentro de la cual destacan el ensayo de crítica artística y, desde luego, la poesía. De él, el premio nobel de literatura mexicano Octavio Paz dijo: «Oímos a Cardoza defender a la poesía no como una actividad al servicio de la Revolución, sino como la expresión de la perpetua subversión humana. Cardoza fue el puente entre la vanguardia y los poetas de mi edad. Puente tendido no entre dos orillas, sino entre dos oposiciones».2

    “La poesía es la única prueba concreta de la existencia del hombre”, Luis Cardoza y Aragón.

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