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domingo - 16/10/2016 - 12:02h

PEC 241 poderá ser um curativo fora da ferida

Por Carlos Duarte

Por mais emoção que se queira colocar nas discussões da PEC 241, existem parâmetros que precisam ser considerados e avaliados, técnica e cientificamente, para que se possa obter uma norma jurídica que se traduza em benefícios positivos e sustentáveis para toda sociedade brasileira. Ou que pelo menos que venha minimizar os graves problemas que corroem a frágil economia brasileira.

Discutir a PEC 241 sem levar em conta noções de economia, administração pública, direito e política, é pura leviandade. Mas, o que se observa, na maioria das vezes, são discussões mal fundamentadas e polarizadas em duas correntes passionais (contra e a favor), centradas na educação e saúde.

Pela proposição da Lei, todos os gastos terão limites. Entretanto os limites para os gastos com educação e saúde só começarão a valer a partir de 2018.

Na verdade, o objetivo da PEC 241 é limitar os gastos – que não poderão ultrapassar o índice de inflação do ano anterior. Ou seja, o foco é manter os mesmos patamares de gastos atuais, melhorar a eficiência de gestão, no longo prazo, forçando o Estado a gastar melhor.

Na ótica do governo Temer, limitar o crescimento dos gastos públicos, possibilitará baixar a atual taxa básica de juros (Selic), colocando as empresas novamente na rota de produção e investimentos, no curto prazo, gerando emprego renda e arrecadação, com reaquecimento da economia e restabelecimento de um novo ciclo de desenvolvimento. Com isso, pretende acabar com a atual recessão em que vivemos.

Olhando por esse prisma, a PEC 241 é uma medida econômica, e não política. E por ser uma medida econômica, é prudente considerar todos os fundamentos econômicos que a envolve.

Não é correto o diagnóstico de que o aumento dos gastos públicos seja proveniente, por exemplo, das despesas com saúde e educação, sem considerar os impactos dos gastos com os juros da divida pública – que são responsáveis por 80% do déficit nominal.

Adicione-se a esse fato: o agravamento da situação fiscal do País, motivado pelas excessivas renuncias fiscais; combates ineficazes à sonegação; frustração de receita e elevado grau de corrupção, entre outras mazelas.

De acordo com o Conselho Federal de Economia (Confecon), quando o governo paga R$ 502 bilhões em juros da dívida pública, 85% estão concentrados em megainvestidores e apenas 0,3% em detentores de dívidas públicas. Isso não gira a roda da economia.

Por outro lado, é preciso avaliar com mais transparência, qual o impacto do congelamento dos gastos com saúde e educação, quando projetarmos os futuros aumentos de população e expectativa de vida do brasileiro. Qual o tamanho desse impacto com as medidas da PEC 241?

Como limitar gastos e torna-lo viável, sem considerar um projeto paralelo de equilíbrio fiscal?

A propósito, Brasil e a Espanha são os únicos a isentar lucros e dividendos. Sem uma reforma tributária, que possibilite equacionar o equilíbrio fiscal, dificilmente a PEC 241 atingirá o seu objetivo.

A dívida pública do Brasil deverá fechar o ano por volta de R$ 3,3 trilhões, o que representa quase 80% do PIB. O déficit primário, em 2016, será aproximadamente de R$ 170 bilhões. Os gastos com as despesas públicas primárias (2008 a 2015) cresceram 51% acima da inflação, enquanto a receita evolui apenas 14,5%.

A PEC 241 precisa ser mais clara no que se refere ao seu objetivo principal.

Se for apenas voltada à contenção de gastos públicos – se torna desnecessária, uma vez que o Brasil já possui um bom sistema de Programação Orçamentário e de Controle de Responsabilidade na Gestão de Finanças Públicas, estabelecida na CF 88 e na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e suas alterações.

Utilizando esses dispositivos o Executivo poderá inserir suas metas fiscais na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), efetuando ajustes seletivos nas despesas que podem ser preteridas as que mais inflam a dívida pública.

Caso queira adotar o Estado Mínimo, deverá adotá-lo conjuntamente com outras medidas, inclusive privatizações.

É preciso mais maturidade e competência, nessa hora. A discussão deverá ser mais contextualizada e não apenas sob a égide do Ceteris Paribus.

Caso contrário, será um curativo fora da ferida.

Carlos Duarte é economista, consultor Ambiental e de Negócios, além de ex-editor e diretor do jornal Página Certa

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Categoria(s): Artigo / Economia

Comentários

  1. João Claudio diz:

    Pensando bem, se o governo gasta dinheiro, o povo reclama. Se pretende parar com a gastança, o povo reclama também.

    Vá entender o povo.

    Na minha ótica, ou o governo pisa no freio agora, ou o país quebra em três pedaços e perde o do meio.

    PS- No ultimo dia 7 o governo anunciou que a saúde e a educação não perderão recursos.

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