Por Marcos Pinto
“Precisamos resolver nossos monstros secretos,
nossas feridas clandestinas,
nossa insanidade oculta.” (Michel Foucault)
O  estudo  aprofundado  da  evolução  cultural  do  homem, em  seus  diversos  e  multifacetados  estágios,  revela  nas  suas  entrelinhas  um  liame   do  acaso  com  um  puro  ocaso.  Nesse  quadro,  surgem  de  forma  inflexÃvel,  os  dois  tipos  de  dores  do  mundo: A  dor  que  machuca  e  a  dor  que  muda.
Entre  um  “por  acaso”  e  um  “puro  ocaso”  permeia  a  sentença  conclusiva  de  que  “viver  é  enfrentar  desafios”. Alinhavamos  nossas  idéias  com  o  matiz  resultante  da  sensação  ou  da  reflexão.
Vinculamos  nomes  e  episódios  a  vidas  comuns.  Há  toda  uma  reconversão  à vida,  através  da representação  de  mistérios  profanos.
Coisas  passadas,  mas  de  que  vive  e  se  formou  o  presente.  Almas  decaÃdas  e  almas  nobres  povoam  episódios  de  pessoas  simples, alguma  com a  sua  auréola  de  “santo”.
Esses  “santos  de  casa”, que  se  não  fazem  milagres,  parecem  mais espontaneamente  santos,  mais  docemente  amigos,  mais  misericordiosos  e  beatos  do  que  os  outros.  É  daà que  surge  o  por  acaso,  fixando  a  certeza  de  que  esse  “santo  de  casa”  evolará  em odor  de  santidade,  emoldurado em  puro  ocaso.
Restará  uma  auréola  de  santo  sempre  que se  mencionar  o  Modus  Vivendi de  quem  nunca  se  imagina  gesto,  postura  ou  descuido  de  gente  como  outra  qualquer.  Só  eles  –  os  tais  e  coitados  “santos  de  casa”, com  o  seu  crucificante  estigma  de  que  não  faz  milagres.  Mas  são  capazes  de  se  fazerem  amar  de  puro  amor.
Os  acasos,  tanto  podem  ser  frutos  da  imaginação,  da  intuição  ou  mesmo  personificação  de  situações  mais  agudas.  O  grande  filósofo  André  Malraux  consolidou  a  assertiva  de  que  “nenhuma  Estenógrafa  fixa  uma  conversação”.
O  insigne  amigo  Carlos Santos,  em  sua  aguda  e  acentuada  visão  sobre  as  coisas  do  espÃrito, fixa  um  perfil  incisivo   de  que  “Nem tudo  se  ajoelha  à  mediocridade”.
As  construções   de  nossas  idéias  serão  sempre  feitas  de  repentes  da  alma,  onde  o  fantástico  e  o  natural  são  tratados  como  o natural  das  coisas  e  de  todos  os  dias.   ConstruÃmos  razões  e  concepções  pungentemente  dilacerantes  no  confronto  à s  inquietações do  cotidiano,  com  os  seus  elementos  de  “visão”  e  até  de  medo.
O  ontem  se  tornou, agora,  tão  precioso  quanto  foi.  Nada  de  mediocridade,  desfaçatez  e  vaidades  assoladoras. Na  verticalidade determinante  do  tempo,  muitas  vezes  surge  um  feliz  acaso,  atingindo  o  apogeu  com  o  poder  de  mando.  Tanto  pode  ser  agente desencadeador  de  empatia  quanto  de  acre  antipatia.
Paira  uma  dúvida  atroz,  a  se  estender  para  o  horizonte  profundo  das  interjeições  metafóricas  dos  sonhos.  Evidencia-se  um  tom displicente  de  motivo  pessoal,  imediato,  rotineiro  em  seus  achados  e  achaques.
De  nada  valerá  o  ressentimento  de  fidalgo  esfomeado  das  palavras  cruéis  e  verdadeiras.  Nada  de  temer  o  ocaso. Nada  de  angústia  e ansiedade  diante  a  certeza  concreta  de  que  um  dia  verá  o  seu  último  Sol  se  por.  De  nada  adiantará  banalizar  o  momento  seguinte, abraçando-se  aos  estertores  da  volúpia  em  chamas.
De  que  vale  uma  biografia  dartagnesca,  forjada  nos  melindres  da  pusilanimidade?.  Impõe-se  o  afastamento  do  talento  agitado, desatinado  na  maneira  sôfrega  de  viver  o  cotidiano,  de  precipitar-se  no  mundo  dos  devaneios  e  do  ceticismo.
Ordena-se  o ajustamento  desambicioso  à s  grandezas  e  à s  honrarias., sem  a  temeridade   do  capricho  dos  fatos  insondáveis. Há urgência  do contato  direto, psicológico, empático, Ãntimo,  com  a  amplitude  espiritual  do  DNA  divino.
Para  viver  um  esfuziante  acaso  afastado  de deprimente  ocaso,  impõe-se  que  nunca  se  revele  como  uma  espécie  de  predestinação  de sucesso  vivido  antecipadamente.  Tutela intenso cunho  filosófico  a  instigante  interrogação  do  escritor e  historiador  Honório  de  Medeiros: “…Ao  fragmentar  a  tessitura  da realidade,  o  que  acontecerá  quando  tudo  for  compreendido ?”.
Inté.
Marcos Pinto é escritor e advogado
Marcos Pinto, boa noite.
Através de seu Artigo reconheço e faço-o sempre, ter conhecido uma santa em casa. Minha avó, mãe de minha mãe. Prestes a dar à luz, a minha mãe, Naide, dirigiu-se à minha avó, Olindina, e disse que o bebê prestes a nascer, ela mesmo cuidaria. Minha avó precisava descansar. Muitas crianças. Então, minha amada avó fez uma proposta: se viesse menino, minha mãe cuidaria, se menina, ela cuidaria. Marcos Pinto, tive a maior sorte porque nasci. Embora, minha mãe e minha avó vivessem na mesma casa, a minha avó cuidava de mim.
Fui uma criança extremamente asmática e lembro de todas as noites em que não dormi e tinha a minha avó ao meu lado, massageando as minhas costas, passando vick – vaporube e cuidando do dyspné -inhal que me trazia algum alÃvio, controlado por ela para que não ofendesse o meu coração. Por vezes, vi meu pai chorar, tentando aplicar injeções, no meu corpo magro. Não entendia o choro dele pois era muito pequena, mas achava que eu era má por fazer meu pai chorar e não sabia qual maldade eu havia feito pois mal falava. Assim, foi a minha infância. Não pude ir na idade certa para o colégio, mas minha avó me alfabetizou e não tive prejuÃzos. Chamava-a de Minha Mãe. O Minha era para que os meus irmãos não resolvessem chamá-la de mãe também. Foi a criatura melhor que o meu mundo conheceu. Ninguém superou-a em dedicação e amor. Ela faleceu há muitos anos, num dia 11 de novembro. Mais de cinquenta anos passados, mesmo assim, meus irmãos, primos , os que a conheciam e ainda estão vivos, prestam-lhe homenagem nesse dia. Ante-ontem. Quando partiu, recusei-me a entender. Meu pai, tentando segurar um choro, disse: “A sua mãe não gostaria de vê-la assim. Você está uma mocinha.” Ele não conseguiu segurar o choro e precisei de socorro médico. Alguma injeção tranquilizante fez-me suportar aqueles momentos. Todos queriam muito bem a ela. Mostro a sua foto aos meus netos, para eles conhecerem o grande amor de minha vida, independentemente do que guardo pelos meus pais. Meus pais foram sábios, sempre respeitaram e admiraram o meu amor. A palavra ciúme não existia. Veja, Marcos Pinto, um anjo me criou. Uma santa, digo com a sinceridade de minha alma. Por acaso coube a ela me criar, jamais ficou no ocaso.
Bom dia Naide Maria.
Costumo afirmar, sem nenhum titubeio ou hesitação, que nossas avós são mães multiplicadas em plenitude divina. Com certeza dona Olindina teve um ocaso aureolado por luz divina, uma vez que amada de forma imensurável por toda sua famÃlia e dona de um coração cheio do infinito amor. Com certeza ela é merecedora da poesia de um grande vate, que inspirado no amor da Virgem Maria, assim emoldurou a mãe dele: “Vi minha mãe rezando/ aos pés da Virgem Maria/ era uma santa escutando/ O que a outra santa dizia”. Tenha uma iluminada e profÃcua semana. Abraço.
Boa tarde! Marcos Pinto.
Parabéns por mais um Artigo, com a certeza que não foi Por Acaso e sim com a competência, dedicação e inteligência de um escritor, historiador e advogado dedicado. Deus te abençoe…
Nazaré Brandão Noronha. MANAUS -AM.