• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 13/11/2016 - 07:56h

Por Acaso – Puro Ocaso

Por Marcos Pinto

Precisamos resolver nossos monstros secretos,
nossas feridas clandestinas,
nossa insanidade oculta.” (Michel Foucault)

O  estudo  aprofundado   da   evolução   cultural  do  homem, em  seus  diversos   e  multifacetados   estágios,  revela   nas   suas  entrelinhas  um   liame    do  acaso  com  um  puro   ocaso.  Nesse   quadro,  surgem   de  forma  inflexível,  os  dois  tipos  de   dores  do   mundo: A  dor  que   machuca   e  a  dor   que   muda.

Entre  um  “por  acaso”  e  um  “puro  ocaso”   permeia  a  sentença  conclusiva   de  que  “viver  é  enfrentar  desafios”. Alinhavamos  nossas   idéias   com  o  matiz   resultante  da  sensação  ou  da  reflexão.

Vinculamos   nomes  e   episódios   a  vidas  comuns.   Há  toda  uma   reconversão  à vida,  através  da representação  de  mistérios  profanos.

Coisas  passadas,  mas  de  que  vive  e  se  formou  o  presente.  Almas  decaídas  e  almas  nobres  povoam  episódios  de  pessoas  simples, alguma  com a  sua  auréola  de  “santo”.

Esses   “santos   de  casa”, que  se  não  fazem  milagres,  parecem   mais espontaneamente  santos,  mais  docemente  amigos,  mais   misericordiosos  e  beatos  do  que  os  outros.  É  daí que  surge  o  por  acaso,  fixando   a  certeza   de  que   esse  “santo  de  casa”   evolará   em odor  de  santidade,  emoldurado em  puro  ocaso.

Restará  uma  auréola   de  santo  sempre  que se  mencionar   o  Modus  Vivendi de  quem  nunca  se  imagina  gesto,  postura  ou  descuido  de  gente  como  outra  qualquer.  Só   eles  –   os  tais  e  coitados  “santos  de  casa”, com  o  seu  crucificante  estigma  de  que  não  faz  milagres.   Mas  são  capazes  de  se  fazerem  amar  de  puro  amor.

Os  acasos,  tanto   podem  ser  frutos  da  imaginação,  da  intuição   ou  mesmo  personificação   de   situações   mais  agudas.   O  grande   filósofo   André  Malraux   consolidou  a  assertiva  de  que   “nenhuma  Estenógrafa   fixa  uma  conversação”.

O   insigne   amigo   Carlos Santos,  em  sua  aguda  e  acentuada  visão  sobre  as  coisas  do  espírito, fixa  um  perfil  incisivo    de  que   “Nem tudo  se   ajoelha  à  mediocridade”.

As  construções    de  nossas   idéias  serão  sempre   feitas  de   repentes  da  alma,  onde  o  fantástico   e  o  natural  são  tratados  como  o natural  das  coisas   e   de  todos  os  dias.    Construímos  razões  e  concepções   pungentemente   dilacerantes  no  confronto   às   inquietações do  cotidiano,  com  os  seus  elementos   de  “visão”   e  até  de  medo.

O  ontem  se  tornou, agora,  tão  precioso  quanto  foi.   Nada  de  mediocridade,  desfaçatez  e  vaidades  assoladoras. Na  verticalidade determinante  do  tempo,  muitas  vezes  surge  um  feliz  acaso,  atingindo  o  apogeu   com  o  poder  de  mando.  Tanto  pode  ser  agente desencadeador  de  empatia  quanto  de  acre  antipatia.

Paira  uma  dúvida   atroz,   a  se  estender   para   o  horizonte   profundo  das  interjeições  metafóricas  dos  sonhos.  Evidencia-se  um  tom displicente  de  motivo  pessoal,  imediato,  rotineiro  em  seus  achados  e  achaques.

De  nada  valerá  o  ressentimento  de  fidalgo  esfomeado   das   palavras  cruéis  e  verdadeiras.  Nada  de  temer  o  ocaso. Nada  de  angústia  e ansiedade   diante  a  certeza  concreta  de  que  um  dia  verá   o  seu  último  Sol  se  por.   De  nada  adiantará  banalizar  o  momento  seguinte, abraçando-se  aos  estertores   da   volúpia  em  chamas.

De  que  vale  uma  biografia  dartagnesca,  forjada   nos  melindres   da   pusilanimidade?.  Impõe-se  o   afastamento  do  talento  agitado, desatinado  na  maneira  sôfrega  de  viver  o  cotidiano,  de  precipitar-se  no  mundo  dos  devaneios  e  do   ceticismo.

Ordena-se  o ajustamento  desambicioso   às  grandezas   e  às  honrarias., sem  a  temeridade    do  capricho   dos  fatos  insondáveis. Há urgência   do contato  direto, psicológico, empático, íntimo,  com  a  amplitude  espiritual   do  DNA  divino.

Para   viver  um  esfuziante   acaso  afastado  de deprimente  ocaso,  impõe-se  que  nunca   se  revele  como  uma   espécie  de  predestinação  de sucesso  vivido   antecipadamente.  Tutela intenso cunho  filosófico  a  instigante  interrogação   do  escritor e  historiador  Honório  de  Medeiros: “…Ao   fragmentar  a  tessitura  da realidade,  o  que  acontecerá  quando  tudo  for  compreendido ?”.

Inté.

Marcos Pinto é escritor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    Marcos Pinto, boa noite.
    Através de seu Artigo reconheço e faço-o sempre, ter conhecido uma santa em casa. Minha avó, mãe de minha mãe. Prestes a dar à luz, a minha mãe, Naide, dirigiu-se à minha avó, Olindina, e disse que o bebê prestes a nascer, ela mesmo cuidaria. Minha avó precisava descansar. Muitas crianças. Então, minha amada avó fez uma proposta: se viesse menino, minha mãe cuidaria, se menina, ela cuidaria. Marcos Pinto, tive a maior sorte porque nasci. Embora, minha mãe e minha avó vivessem na mesma casa, a minha avó cuidava de mim.
    Fui uma criança extremamente asmática e lembro de todas as noites em que não dormi e tinha a minha avó ao meu lado, massageando as minhas costas, passando vick – vaporube e cuidando do dyspné -inhal que me trazia algum alívio, controlado por ela para que não ofendesse o meu coração. Por vezes, vi meu pai chorar, tentando aplicar injeções, no meu corpo magro. Não entendia o choro dele pois era muito pequena, mas achava que eu era má por fazer meu pai chorar e não sabia qual maldade eu havia feito pois mal falava. Assim, foi a minha infância. Não pude ir na idade certa para o colégio, mas minha avó me alfabetizou e não tive prejuízos. Chamava-a de Minha Mãe. O Minha era para que os meus irmãos não resolvessem chamá-la de mãe também. Foi a criatura melhor que o meu mundo conheceu. Ninguém superou-a em dedicação e amor. Ela faleceu há muitos anos, num dia 11 de novembro. Mais de cinquenta anos passados, mesmo assim, meus irmãos, primos , os que a conheciam e ainda estão vivos, prestam-lhe homenagem nesse dia. Ante-ontem. Quando partiu, recusei-me a entender. Meu pai, tentando segurar um choro, disse: “A sua mãe não gostaria de vê-la assim. Você está uma mocinha.” Ele não conseguiu segurar o choro e precisei de socorro médico. Alguma injeção tranquilizante fez-me suportar aqueles momentos. Todos queriam muito bem a ela. Mostro a sua foto aos meus netos, para eles conhecerem o grande amor de minha vida, independentemente do que guardo pelos meus pais. Meus pais foram sábios, sempre respeitaram e admiraram o meu amor. A palavra ciúme não existia. Veja, Marcos Pinto, um anjo me criou. Uma santa, digo com a sinceridade de minha alma. Por acaso coube a ela me criar, jamais ficou no ocaso.

  2. Marcos Pinto. diz:

    Bom dia Naide Maria.
    Costumo afirmar, sem nenhum titubeio ou hesitação, que nossas avós são mães multiplicadas em plenitude divina. Com certeza dona Olindina teve um ocaso aureolado por luz divina, uma vez que amada de forma imensurável por toda sua família e dona de um coração cheio do infinito amor. Com certeza ela é merecedora da poesia de um grande vate, que inspirado no amor da Virgem Maria, assim emoldurou a mãe dele: “Vi minha mãe rezando/ aos pés da Virgem Maria/ era uma santa escutando/ O que a outra santa dizia”. Tenha uma iluminada e profícua semana. Abraço.

  3. Nazaré Brandão Noronha diz:

    Boa tarde! Marcos Pinto.
    Parabéns por mais um Artigo, com a certeza que não foi Por Acaso e sim com a competência, dedicação e inteligência de um escritor, historiador e advogado dedicado. Deus te abençoe…
    Nazaré Brandão Noronha. MANAUS -AM.

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