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domingo - 25/09/2016 - 18:44h

Uma juíza critica a meritocracia

Por Honório de Medeiros

Li um texto de uma juíza chamada Fernanda Orsomarzo acerca de meritocracia e condição social que me chamou a atenção. Você pode lê-lo em AQUI.

Fernanda Orsomarzo critica a meritocracia a partir de uma constatação óbvia e de uma conclusão ingênua. A constatação é a de que saiu na frente de outras pessoas que gostariam de ser juízes, por ser branca, classe média, ter estudado em colégios particulares, falar inglês, com pais participativos, etc, etc…

A conclusão é a de que, portanto, condenemos a meritocracia, porque naturaliza a pobreza, normaliza a desigualdade social e produz esquecimento. Acabemos, pois, conclui-se da leitura do texto, com a ideia de mérito, posto que ela é injusta.

Somente seria justa, se e somente se, as condições de competição fossem iguais para todos. Agora cabe perguntar: e como obteríamos essas condições iguais para todos? A doutora não nos diz.

Mas supondo que as condições fossem iguais para todos, como a escolha seria feita? Quero crer que pelo mérito, claro.

Então o problema não é o mérito em si, mas a pobreza, a desigualdade social, e o esquecimento pelo Estado.

Ao invés de atacar o mérito que levou a Doutora a ser escolhida entre iguais (ou não?), deveriam ser atacadas as condições que o impedem de ser justo, digamos assim. Quero crer que apesar dos pesares, dentre os concorrentes no concurso que a Doutora prestou o mérito nos proporcionou o melhor.

E nós não conhecemos uma forma melhor de conseguir esse resultado. Até por uma razão muito simples: mantida essa premissa da qual parte o raciocínio da juíza, não teríamos eleições, pois é inegável que muitos candidatos saem na frente de outros, no que concerne até mesmo à capacidade de articular suas idéias de forma a torná-las mais persuasivas, em decorrência da educação que receberam.

Se não há condições iguais de concorrer, não pode haver mérito; e se houver mérito, perpetua-se o poder daqueles que por uma ou outra razão, similar a aquelas das quais fez uso a Doutora em seu concurso, partiram na frente.

E a quem entregaríamos a responsabilidade da escolha dos nossos juízes, dos nossos dirigentes, se não houver concurso e eleição?

Aos mais preparados?

E quem tem mérito para fazer tal escolha?

A igreja? O partido? A revolução?

A mim me parece que ao invés de condenar a arma, a Doutora deveria ter condenado quem a utilizou.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do RN.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Paulo Falcão diz:

    Sugestão de leitura sobre o tema: A MERITOCRACIA E SEU OPOSTO. //wp.me/p4alqY-eo

  2. Paulo Falcão diz:

    Concordo com suas ponderações.

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