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domingo - 23/07/2017 - 06:16h

A falácia da “despoluição” que nunca acontece

Por Gutemberg Dias

Não é primeira vez e nem será a última que vou escrever sobre o Rio Mossoró, o qual considero patrimônio do povo Potiguar e, sobretudo, do povo mossoroense e da região Oeste, a partir do seu nascedouro em Luís Gomes-RN.

Lembro que desde que comecei a acompanhar a política local, todos os políticos que disputaram a prefeitura da Capital do Oeste colocaram a despoluição do Rio Mossoró como prioridade de seus planos de governos. Imagino que muitos outros candidatos, antes da década de 1990, devem ter feito o mesmo.

Cuidar do rio parece que dar votos e não cumprir o prometido em relação a ele, não é levado a sério.

Pois bem, o discurso nos palanques e programas eleitorais de televisão nunca se transformou em ação concreta quanto à melhoria das condições desse importante recurso hídrico de nosso estado e de nossa cidade. E assim continuará, porque de fato não é prioridade e nunca o foi.

Foto antiga em que o centro de Mossoró ainda tem seu rio com margens de perfil rural (Foto: sem identificação de origem)

Acredito que a falácia no entorno da despoluição desse manancial se assenta na falta de conhecimento dos candidatos e, também, daqueles que coordenam os seus planos de governo. A própria temática ambiental que passou a ganhar notoriedade nas últimas décadas, com parte de uma agenda planetária, incentiva essa enganação de quatro em quatro anos.

Na última eleição, pleito de 2016, fiz uma discussão sobre Rio Mossoró dizendo que não é possível num único mandato despoluir e nem revitalizar esse corpo hídrico. Também, deixei claro que o esforço tem que ser coletivo dos gestores dos municípios que estão inseridos na bacia hidrográfica do rio.

Obviamente uns municípios terão que engendrar maior ou menor esforço nesse processo, mas é imprescindível a união de todos em relação a essa causa.

Fazendo um recorte e focando os esforços que Mossoró precisa fazer, destaco a necessidade urgente de identificar os pontos de poluição na área urbana e tratá-los com muita seriedade e, também, severidade. Já tive a oportunidade de navegar nas águas do rio e é fácil identificar pontos de despejos de esgoto sanitário ao longo das margens.

Nesse sentido, intensificar o programa de ligação das residências e estabelecimentos comerciais a rede de esgotamento sanitário é uma ação de suma importância. Digo isso, pois o centro e grande parte dos bairros adjacentes ao rio Mossoró já dispõem de saneamento básico, porém muitas residências ainda não fizeram a ligação na rede.

Outra ação que acredito que precisa ser feita é virar a cidade para o rio.

Historicamente as cidades cresceram virando suas costas para os rios e Mossoró não foi diferente. Basta ver que os quintais é que se conectam com as margens desse corpo hídrico. A prefeitura tem que pensar um programa que possa reintegrar o rio à vida do mossoroense, só assim o cidadão passará a enxergá-lo.

Imagino que um programa de urbanização de alguns pontos das margens, obviamente após estudo ambiental que garanta a segurança do meio ambiente, possa ser uma forma de virar a cidade para o rio. Assim como a implantação de pistas de corrida e caminhadas ao longo das margens que possam se integrar ao Parque Municipal, o qual precisa ter sua obras finalizadas, podem atrair o interesse da população para a causa da revitalização do rio Mossoró.

Mossoró por ser o maior município e ter o maior trecho urbano do rio, deveria se credenciar para capitanear o Comitê de Bacia do Rio Apodi-Mossoró. Dado a importância regional que o município tem e sua pujança econômica, tem que se autoafirmar e trazer para si essa responsabilidade.

Outra ação que deve ser feita em paralelo a cada etapa do planejamento de revitalização do rio é o desenvolvimento de campanhas publicitárias que mexa com o sentimento do povo em relação ao rio Mossoró. É preciso fazer com que o povo retome o gosto pelo seu rio e assim tenha o interesse em cuidar dele. Talvez essa seja a ação mais fácil de todas, haja vista que para publicidade nunca faltou recursos nos cofres públicos.

Tenho plena convicção que um projeto de longo prazo que possa ser implantado por uma gestão e encabeçada pelas seguintes tem tudo para ter um resultado positivo quanto a revitalização do rio Mossoró. Nesse sentido, os gestores precisam entender que esse projeto é do município e não do governo deles.

Quanto ao políticos que usam o rio Mossoró como peça publicitária de campanhas eleitorais, só posso parabenizar seus marqueteiros que são muito bons no que fazem. Pena que concorram para entronizar pessoas no poder, que despejam todas as suas promessas rio abaixo.

Por fim, não resta dúvidas que a revitalização do rio Mossoró segue forte a cada eleição municipal. Na  próxima, novamente.

Gutemberg Dias é graduado em geografia, mestre em Ciências Naturais e empresário.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. sergio bouças diz:

    A mim me surpreendeu não haver menção aos avanços imobiliários que se verificam às margens do nosso ” esgoto a céu aberto ” impedindo o fluxo livre de suas águas. Sim, não há como se fazer instalar na nossa região uma industria ( que venha para ficar ) para a utilização dos aguapés que habitam a bacia do nosso rio;

  2. Lair solano vale diz:

    Como sempre nos traz bons textos para reflexão. A imprensa não fala na importância do Rio e sua despoluição. Os movimentos sociais brigam por muita tolice e politicagem , esquecendo um problema tão relevante. Falar da morte de seres humanos têm audiência, já a morte do nosso rio não importa.

  3. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Como sempre, nosso grande GUTEMBERG DIAS nos briandando com textos pra análise (DESTA FEITA O QUADRO DANTESCO E REPETIDO QUADRO DE ABANDONO IMPOSTO AO RICO MANANCIAL DA BACIA DO RIO APODI/MOSSORÓ) e reflexão do que não deve ser feito e o que efeitvamente o que pode ser realizado coletivamente pleo poder públicamten e pelo povo do país de Mossoró,quando este puder exercitar uma visão inclusiva e participativa e não suicida como ocorre desde priscas eras.

    Essa transformação, claro, é, infelizmente, necessariamente lenta dada a complexidade e a natureza intrínseca à qualquer transformação social e política, a qual só poderá ocorrer, quando através da educação e informação de qualidade, começar desgararen-se das amarras da ignorância, e por conseguinte, do absolutismo, do obscurantismo e da exclusão social, econômica e políticas das oligarquias e monarquias que oprimem e desencadeiam, desde tempos antanhos, verdadeiro imobilismo social em terras potiguares.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Toinho Alves (Professor) diz:

    É público e notório a falta de compromisso dos poderes e dos políticos em relação à despoluição ou à revitalização do Rio Mossoró, que a cada ano pede socorro! Abrir as barragens e liberar toda água estagnada seria uma solução abrupta, mas necessária para dar-se inicio a retirada de todo o material impregnado no seu leito. Recursos e tecnologia não faltam, o que mais está em falta é o interesse em buscá-los, em resolver ou minimizar o problema, não existem projetos viáveis, mais que pudessem ser executados através de um planejamento a longo prazo, mas com continuidade de ações. A tricotomização do rio, acabou com as enchentes constantes no centro e nas áreas ribeirinhas, o que parecia improvável, teve solução. Sobra desinteresse político e capacidade de arregimentar forças para conseguir recursos e executar projetos viáveis.

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