Li há alguns dias mais um artigo superior, do ótimo Mauro Santayanna, jornalista de longo curso. Falava de liberdade de expressão, poder e o ofício do comunicador.
Mauro defendia o fim da "Lei de Imprensa", tese com a qual me apego há anos. Não faz sentido lei especial, quando temos legislações cível e penal capazes de estabelecerem direitos e deveres, com sanções em casos de abuso tipificado do verbo.
Esse "nariz de cera" (abertura cheia de rodeios, sem ir direto ao ponto), é-me útil. Serve para lembrar um trecho do que escrevera o jornalista, quanto à relação entre o mando e a inteligência contestadora. Para ele, o primeiro não sabe conviver com o segundo, daí as perseguições implacáveis.
Vemos o retrato da intolerante e obtusa elite política de Mossoró, punindo o escritor e poeta Marcos Ferreira. Nesta quarta (12), às 18h, na livraria "Café & Cultura", Marcos lança o livro "A hora azul do silêncio", para desapontamento dessa gente.
A conquista é fruto de concurso de âmbito nacional, vencido em 2006, "Prêmios Literários Cidade de Manaus," categoria "Melhor Livro de Poesias." O poeta mossoroense superou cerca de 200 concorrentes de todo o país.
Sua noite de autógrafos é patrocinada pela Prefeitura de Manaus (AM) e a Universidade Federal do Amazonas, mas ignorada pelo poder público nativo. O porquê? Marcos pensa e deixa eclodir suas preocupações sociais, na terra da utopia cor-de-rosa.
Manaus? Bem, ele não a conhece, mas já a admira por descobri-lo.
O mandonismo atrasado da política mossoroense, que transforma cidadãos em répteis, não aceita a glória fulgurante de um "comum", vindo das entranhas da pobreza periférica, sem a extração ‘superior’ dos bem-nascidos. Essa poda excludente não é exceção. Virou regra. Apenas uma "panelinha" tem vez.
Por aqui chegamos a testemunhar uma campanha burlesca para tornar Mossoró a "Capital Brasileira da Cultura." Quanta desfaçatez e cinismo.
A obra de Marcos Ferreira é uma resposta silenciosa e retumbante à mediocridade cultural, à politicalha primitiva e à ignorância institucionalizada pela Prefeitura de Mossoró, no governo da prefeita Fafá Rosado (DEM). Perseguido como inimigo do regime, ele esgrima com uma produção intelectual superior. Fere de morte a estupidez familiar, que se instalou no Palácio da Resistência.
Eles vão se obrigando a testemunhar que não podem tudo. Dignidade é um vocábulo que Marcos Ferreira ensina poeticamente.
Caro amigo, caro irmão, assino com você essa crônica sua acerca do nosso querido Marcos Ferreira e aproveito para invejar vivamente o fêcho que lhe foi dada – soberbo.
Um abração.
Honório de Medeiros
Ao meu (velho) amigo Marcos Ferreira:
Cair-me-á nas mãos, após muitos anos,
O seu escrito – maravilhosamente –
Relembrando-me a época em que iniciamos a amizade,
Quando não mais nos fizemos aprendizes…
E já não teremos cabelos grisalhos,
Ultrapassado, de há muito, o tempo dos falsos pudores.
Como antes, ainda me considerarei seu amigo…
(uma brincadeira parodiada de An Meinen Alten Freund Peter Schlemihl – de Adelbert von Chamisso, em A história maravilhosa de Peter Schlemihl).
Diferentemente de Peter Schlemihl, não vendemos (nem venderemos) nossa sombra ao diabo…
“Ars longa” ao “passarinho” Marcos Ferreira! Porque “passarão” em breve!
Jessé.