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domingo - 21/05/2017 - 09:40h

Cada tempo com sua Arcádia

Por François Silvestre

O alferes Tiradentes não negociou sua liberdade. Morreu livre. Não entregou ninguém. Responsabilizou-se. Morto, retalhado, excomungado.

A igreja era sócia do Estado monárquico. Ao ser proclamada a república, o Estado virou laico; mas a igreja não suspendeu a excomunhão de Tiradentes.

Os republicanos novos, entre eles Rui Barbosa, Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Bernardino de Campos, Silveira Martins, Afonso Pena e o Exército só descobriram a dignidade de Tiradentes tardiamente. Nunca moveram uma palha, durante o Império a que serviram, para restaurar a imagem do Mártir. Tiradentes foi bandido até a manhã do dia 16 de Novembro de 1889.

Um ser nefando, negador da ordem e da religião. Ao mudar o regime, mudou o azimute da avaliação. E Tiradentes foi moralmente restaurado, sem ter um corpo inteiro para repousar no enterro comum dos mortos.

Os heróis de ontem, Silvério dos Reis, Inácio Pamplona e Basílio do Lago saíram do panteão do heroísmo para o esgoto dos traidores. Tomaz Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Silva Alvarenga que se exibiam numa literatura medíocre, pediram perdão, apequenaram-se e aceitaram resignados o degredo e outras punições.

Eram poetas, com nomes árcades. O arcadismo da influência europeia, cujos nomes habitavam as nuvens num estuário nefilibata, de imitação bocó, numa colônia sob grilões.

Os nomes árcades serviriam ao esconderijo do gesto. Tomaz Antônio Gonzaga assinava Dirceu, nas Cartas Chilenas, sátira ao governo, ofertadas a Marília, dona Joaquina de Seixas, sua musa. Cláudio Manoel da Costa era Glauceste Satúrnio. Silva Alvarenga era Alcindo Palmirendo. Basílio da Gama era Termindo Sipílio.

Imitação pueril de M. M. B. Du Bocage, ferino e infernal poeta, em cuja Arcádia Ulissiponense adotou o árcade Elmano Sadino.

Joaquim José era Tiradentes. Não pelo arcadismo, nem pela poesia. Nem poeta ou enlouquecido de esperança, como o disse Tancredo, num discurso escrito por outro. Pois fé na chance de uma rebelião que não era republicana. Uma monarquia das Minas Gerais. Acreditou nos “colegas”.

O Brasil não conhece o próprio destino. Nem identifica seus timoneiros. No mundo político brasileiro tivemos dois leninistas, no método. Carlos Lacerda e José Dirceu. Antagônicos.

O leninismo ensina que para se chegar ao poder não há escrúpulos na escolha de alianças. Lacerda foi destruído pelos aliados que escolheu, antes de abocanhar o poder sonhado.

José Dirceu chegou ao poder. Montou uma Arcádia de corrupção, “poetas” de falcatruas. Não houvesse a primeira inconfidência, de um aliado insatisfeito, teria chegado à presidência.

Mas houve. E ele caiu. Todos os seus árcades, com apelidos ridículos, abrem a boca. Menos ele. Só nisso e apenas nisso ele imita ao Alferes.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

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