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domingo - 15/01/2017 - 04:04h

O mar, os amigos e a saudade em Tibau

Por Paulo Menezes

Antes de mais nada, devo confessar que sou um saudosista incorrigível. Quando estou em frente ao mar, como ocorre no momento, ouvindo o barulho das ondas quebrando na praia, fecho os olhos por um segundo e de repente me vem à lembrança dos tempos áureos de minha juventude vividos com muita intensidade.

Tibau (a 42 quilômetros de Mossoró) foi palco desses anos dourados e que por isso mesmo se torna sempre presente nos meus constantes devaneios.

O “misto” de Isidoro era o transporte que nos levava à bela praia. A estrada era carroçável, com trechos muito arenosos, onde o caminhão necessitava muitas das vezes de nossa intervenção empurrando a condução afim  de que a mesma transpusesse a areia e prosseguisse viagem.

Após mais ou menos uma hora de percurso enxergávamos o coqueiral de Gangorra, aumentando nossa ansiedade em avistarmos as falésias vermelhas da encantadora vila. Era grande a emoção sentida quando o veículo subia o morro de Tibau ao fim do qual, maravilhados vislumbrávamos a beleza verde azulada do mar.

Ali, passávamos dois meses inesquecíveis de veraneio como se fora uma só família.

Manhãzinha cedo, íamos a pé, até à granja de Pergentino, distante mais ou menos um quilômetro, tomar leite de vaca, quentinho, tirado na hora. Antes do banho de mar, tinha a turma da “pelada”, onde com times definidos travávamos disputadas partidas de futebol.

No início da tarde seguíamos fagueiros esperar a chegada das jangadas onde ajudávamos a rolar com toras de carnaúba, a levar a embarcação até à praia, maneira artesanal de conduzir o paquete até o porto seguro. Assistíamos com admiração a partilha do pescado entre o mestre e demais pescadores.

Em dias chuvosos, participávamos como parte integrante dos arrastões, onde aos gritos de Tidó e Ananias, víamos milhares de peixes e camarões serem trazidos pela rede para a beira da praia.

Antes do entardecer ainda tinha as rodadas de pif-paf que entravam pela noite. Não faltavam ao carteado, eu, dona Odete Mendes, Nonato de Ananias, Funela, Pançudo, Dois de Ouro e Josefina.

Depois dos lampiões “Coleman” serem acesos para alumiar a noite, era chegada a hora da boemia. O ponto de encontro era o “morrinho” onde havia a reunião de jovens debutando seus primeiros namoros.

Quando as meninas recolhiam-se às suas casas, os mancebos então partiam para, noite adentro, oferecer-lhes a serenata que com muito romantismo quebrava o silêncio da fria madrugada.

Visitávamos os alpendres de casas da praia do Ceará, e de Tibau, da “Pedra do Chapéu” até a “Furna da Onça”, indo até as cercanias da distante casa de Joaquim Borges.

Finalizando a noite, reuníamos no bar de Manoel Marreira, onde tomando “umas e outras” tirando o gosto com sardinha e mortadela, comentávamos o sucesso da noite criança.

Terminava assim mais um dia de imensa felicidade para no dia seguinte começar tudo de novo.

Aqueles dois meses passavam num minuto. Duraram no entanto uma eternidade.

Não é à toa que Mário Quintana afirma: “A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo”.

Daquele tempo feliz, inesquecível, distante e de mudanças tão profundas, só restaram o mar, amigos e muita saudade.

Paulo Menezes é apicultor e ex-bancário

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Boa! Saudade se tem de coisas boas, o tempo não importa!
    O que está acontecendo nos dias atuais? Será que eles teram saudades ou tristesa de tanta escatologia feita? Será que eles deixaram seus filhos, quando o tiverem, fazer o mesmo?
    Estamos com saudades e com certeza apoiariamos nossos filhos a fazer o mesmo!
    Lamentável o que acontece em Tibau nos dias atuais.
    Com certeza o futuro lhes reservará arrependimento, triste, muito triste mesmo .

  2. Pinheiro Neto diz:

    Rapaz, tá tão diferente de hoje… a violência talvez seja um dos maiores obstáculos para que se consiga ter a tranquilidade de outrora.

  3. João Claudio diz:

    O nobre Paulo não mencionou a data, mas acredito que aconteceu entre os anos 60/70.

    Hoje, está tudo mudado. Como dizia Canindé Queiroz, transformaram Tibau em uma grande favela à beira mar.

    Se os Senhores quiserem ver de perto…”aonde o vento encosta o lixo”, ou, ”o diabo se faz presente aqui”, façam uma visita à Praia do Ceará entre 10 e 14 horas de um dia de domingo.

    – As motos, com dois ocupantes ou mais e sem o uso de capacetes trafegam entre banhistas em altíssimas velocidade, muitas delas usando apenas um pneu.

    – Quadriciclos, idem, e andando sobre duas rodas.

    – Veículos fazendo cavalo de pau com garotas sentadas sobre as portas dianteiras e traseiras. Ou seja, as pernas dentro do veiculo e o restante do corpo para fora. Parece que é moda.

    Por se tratar de território cearense, não se vê um policial daquele estado.

    Portanto, naquele pedaço de areia do mar não há lei e, consequentemente, não tem dono. É um prato cheio para os irresponsáveis, e do jeito que o diabo gosta.

    Ontem (domingo 15) levei de casa uma cadeira e uma sombrinha, e fiquei sentado das 10 da manhã às 3 horas observando a esculhambação.

    Outra coisa me chamou a atenção é a quantidade de casas construídas de forma irregular na beira mar. Me lembro que na década de 90 um prefeito de Icapuí construiu varias barracas padronizadas para comerciantes comercializarem seus produtos.

    Os proprietários beneficiados com as barracas venderam as mesmas e os seus novos proprietários as derrubaram e construíram casas residenciais para morar.

    Um verdadeiro absurdo sob olhares da prefeitura e policia de Icapuí, e da Marinha do brasil.

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